Autor Daniele Avila Small

Imagem e discurso

15 de abril de 2008 Críticas
Gabriela Carneiro da Cunha. Foto: Divulgação.

O espetáculo Todo o tempo do mundo, realizado pelo Studio Stanislavski, instala a cena e a platéia dentro do palco do Teatro Maria Clara Machado, formando um outro espaço circular. A cenografia de José Dias intervém efetivamente no ambiente, criando um novo lugar. O espaço de atuação se descola da arquitetura daquele teatro. No centro, um tablado redondo que gira sobre o seu próprio eixo é o suporte para a linha diretriz da trama: o tempo em que um homem ficou preso, os sonhos que teve, sua relação com estes sonhos e a conclusão que se pode tirar desta história. Em torno do pequeno círculo/cela, outro se forma pela disposição intercalada de cadeiras para o público e espaços para as cenas. A divisão entre estes espaços é feita por um véu escuro e pela iluminação. As cenas que acontecem nestes espaços, que às vezes se assemelham a pequenos nichos, apresentam os sonhos do homem que está deitado em seu catre – percebemos esta relação logo de início pois as cenas no círculo exterior só acontecem enquanto o personagem que está no centro dorme.

Literatura e teatro, citações e comentários

10 de abril de 2008 Críticas
Foto: Jardel Maia. Atores: Daniela Fortes, Marina Vianna e Leonardo Netto

Toda disciplina ou arte tem, em algum momento, a sua besta negra. A teatralidade já foi a besta negra das artes visuais, o anacronismo é a besta negra para certa noção de História e a literatura é a besta negra do teatro. Não é raro que se diga, ou que se tenha dito, pejorativamente, que determinado espetáculo privilegia o elemento literário em detrimento do teatral.

Subjetividades em jogo: recorte e montagem do universo masculino de Nelson Rodrigues

10 de abril de 2008 Processos

O processo do espetáculo Quer morrer comigo? será apresentado em 31 de maio e 1º de junho no Centro de Estudos Artístico Experimental no SESC Tijuca, como parte da Mostra Novíssimas Pesquisas Cênicas. A peça, projeto do ator Henrique Gusmão, que também fez a dramaturgia, é dirigida por Daniel Schenker e tem a supervisão geral de Celina Sodré, diretora do Studio Stanislavski, grupo do qual os dois artistas fazem parte. A idéia do espetáculo tem, de início, um caráter que me interessa: trata-se de uma pesquisa em que a dramaturgia e a atuação estão intrinsecamente ligadas no processo de elaboração do trabalho. Não simplesmente porque as duas funções são assinadas pela mesma pessoa, mas porque há uma atuação sobre a dramaturgia, feita a partir de um olhar de ator. Henrique Gusmão pesquisa, nas falas de Nelson Rodrigues, um fio que possa desenhar uma espécie de percurso pelos seus personagens masculinos.

Não digo que ele esteja delineando uma trajetória comum, uma espécie de monomito rodrigueano. Penso que se trata de uma trajetória determinada pelo olhar do ator, de uma leitura-em-percurso através dos textos de Nelson, que visa construir uma cena autônoma, porém enraizada nos mecanismos de construção do pensamento dos seus personagens. Todo o texto é construído com falas (descontextualizadas) de suas peças. Além das falas, alguns objetos são usados na edificação do trabalho. A relação com as falas e a relação com os objetos me parecem atuar como elementos balizadores para a criação do ator: as falas criam e fecham um universo de sentidos; os objetos constituem e sintetizam um espaço particular, um “em torno” que dá ao corpo um lugar de atuação. Dentro destes limites e apoiando-se nestes elementos, acontece a criação da peça.

Entrega e resistência

10 de abril de 2008 Críticas

O espetáculo Cuidado com o cão, em cartaz na sede da Cia do Atores, será analisado aqui a partir das propostas da Cia de Teatro Íntimo, explicitadas no programa da peça:

“Segunda experiência com dramaturgia própria. Seis monólogos são transformados, viram diálogos e resultam num espetáculo vigoroso. Quando duas mulheres buscam se libertar da opressão masculina, a reação é violenta. A direção persegue o essencial e a entrega dos atores é impressionante. Palco e platéia já são uma coisa só. A fragmentação da cena permite várias leituras da história. A luz vai para as mãos de quem assiste. O espectador é que decide o que vai ser iluminado durante o espetáculo e, assim, constrói o seu próprio enredo. Violência e delicadeza se alternam. A proposta da encenação é mais ousada e a intimidade, muito mais veemente.”

Epílogo, resíduo ou conclusão

10 de abril de 2008 Críticas
Performance Luz (-). Foto: Dalton Camargos

O programa 3 do festival Resta pouco a dizer traz as peças de Beckett Eu não e Rascunho para Teatro II, além das performances Luz –, Respiração – e Luz +. Há também outra performance cujo nome não consta no programa da peça. A performance inicial, Luz –, funciona, por semelhança aos programas 1 e 2, como um prólogo. Ela anuncia a polaridade luz/escuridão como tema. O desenvolvimento do tema, no entanto, não vai além do que já está apresentado no prólogo: tanto esta performance como as que vão ser apresentadas a seguir parecem não explorar o tema de fato, elas têm uma função apenas ilustrativa. A simplicidade das performances do programa 2 se tornou simplificação no programa 3.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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