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Perguntas sobre o trágico

22 de outubro de 2013 Críticas
Foto: Divulgação.

Nesta breve análise da montagem da peça Maravilhoso, texto de Diogo Liberano encenado por Inês Viana, que esteve em cartaz no Teatro Gláucio Gill no segundo semestre de 2013, procuro pensar a perspectiva trágica a partir do texto e de algumas escolhas da encenação com o trabalho dos atores.

O projeto de montagem da peça Maravilhoso partiu da ideia do ator Paulo Verlings de unir o Fausto de Goethe com o carnaval carioca. Liberano, convidado a escrever o texto, surpreende com um Fausto improvável: jovem, pobre e desprovido de formação intelectual. Seu protagonista, Henrique, interpretado por Paulo Verlings, não tem pretensões criadoras, é um Fausto sem vida interior. Sua vida material também é escassa. Com essa condição do personagem na trama, a dialética entre interior e exterior que move o Fausto de Goethe para uma vertigem criadora não acontece. A opção é curiosa. Este Fausto aspira a quê? Vende sua alma para quê?

Ser ou não ser Nelson Rodrigues

20 de março de 2008 Críticas

O espetáculo Cachorro! coloca em evidência dois problemas: o estereótipo rodrigueano e a questão da autoria de textos, quando estes são feitos a partir de um universo de determinado autor. No caso, a peça é livremente inspirada no universo de Nelson Rodrigues. A trama busca uma semelhança com seus textos, os nomes dos personagens são familiares aos seus, o texto tenta imitar uma construção de diálogos característica de suas peças, mas a peça não é de Nelson Rodrigues. A autoria é de Jô Bilac.

Aqui se faz necessário pensar o que é o universo de um autor e se é possível pensar este universo separadamente da sua escrita. Existe um universo de Nelson Rodrigues que prescinde de seus textos, que é autônomo, de domínio público? O que tem de importante e particular num texto deste autor: os jargões, as situações, o impacto sobre as questões morais do público, os desfechos trágicos, as gírias da época? Será que extrair do universo de um autor a sua própria escrita não é como retirar as bases da sua construção? Há um risco nesta escolha, o risco de não conseguir sair de uma espécie de clichê, de uma imagem convencionada pelo senso comum. Mesmo que as intenções sejam as mais sérias.

Fluidez e estranheza

15 de março de 2008 Críticas
Atores: Paulo Verlings, Carolina Pismel e Felipe Abib. Foto: divulgação.

É incrível o potencial de mobilizar multidões que as encenações de textos de Nelson Rodrigues alcançam no panorama teatral carioca. O público não só comparece em peso como parece acompanhar atentíssimo o desenrolar do texto falado, respondendo prontamente em coro a cada comentário inusitado proposto pelo dramaturgo, com risos de quem recebe com prazer, compreendendo plenamente o humor ali embutido. O casal assistindo Cachorro! ao meu lado, no teatro Maria Clara Machado, no Planetário, comentava animado o desenrolar do enredo trágico, aguardando pacientemente o desfecho, e saindo do teatro ao fim da apresentação num estado que pela aparência julgo ser o de satisfação. 

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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