Conversas

Do Teatro de Arena à estética do Oprimido

10 de maio de 2009 Conversas

Em lembrança viva ao teatrólogo Augusto Boal, falecido no dia 02 de maio de 2009, publica-se a entrevista realizada no Centro de Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro em 15 de outubro de 2007 por Dodi Leal e Clóvis de Lima Gomes sob orientação do professor Sérgio de Carvalho da Universidade de São Paulo e diretor da Cia. do Latão. A entrevista, sem cortes de edição, aborda em especial a fase dos musicais do Teatro de Arena de São Paulo passando por questões da dramaturgia, da crítica, do sistema curinga e do tema do herói e da empatia. Trata também das novas pesquisas do Boal, sobretudo da Estética do Oprimido, projeto teórico e programa político no qual se concentrou nos últimos anos e que teve como propósito o estímulo ao pensamento estético humano por meio do acesso à produção artística. A entrevista contribui para a compreensão de elementos comuns e críticos da trajetória entre o Teatro de Arena e o Teatro do Oprimido e ajuda a refletir sobre as características do teatro brasileiro cuja versão engajada de Boal ganhou proporções mundiais, sendo praticado por milhares de atores, diretores e educadores de todos os continentes. Em 2008, Augusto Boal foi pré-indicado ao Prêmio Nobel da Paz e em 2009 foi nomeado Embaixador Mundial do Teatro pela UNESCO.

A arte de escutar

20 de março de 2009 Conversas
Foto da peça A arte de escutar. Foto: divulgação.

“(…) Escutar é mais que ouvir. É mais do que estar parada em frente a alguém dividindo o mesmo metro quadrado. Escuta-se por todas as células do corpo. Escuta-se com as mãos, com os olhos, com a respiração, escuta-se inclusive com os ouvidos… Uma postura escuta, um gesto escuta, a boca escuta. Há que se deixar apagar e se concentrar no outro para vivenciar a plenitude da experiência auditiva, há também que se eliminar quaisquer ruídos de interferência como pensamentos que voam, telefones que tocam, vaidades que afloram, vontades de ir ao banheiro… Muitos dizem que a fala distingue o ser humano dos outros animais. Discordo. Saber escutar é o que nos dá humanidade (…).” (Carla Faour, A Arte de escutar).

Atuação crítica

10 de fevereiro de 2009 Conversas
Foto da peça O círculo de giz caucasiano

A conversa com Sérgio de Carvalho foi realizada no dia 5 de fevereiro por Daniel Schenker, Daniele Avila, Isabel Pacheco e Michelle Nicié. Sérgio de Carvalho é diretor da Cia do Latão, de São Paulo, e esteve no Rio de Janeiro por ocasião do lançamento dos livros Introdução ao teatro dialético e Atuação crítica.

ISABEL PACHECO – Vendo o trabalho e a trajetória de vocês eu vejo que há uma reflexão crítica acerca da sociedade, da história. Como surgiu isso, a idéia dessa busca por esse caminho?

SÉRGIO DE CARVALHO – Desde o início, existe uma certa dimensão teórica no trabalho teatral que eu pretendia desenvolver e depois isso se impregnou no trabalho do Latão. Eu vim da dramaturgia pra direção. De início eu nunca pensava que eu ia dirigir teatro. Eu achei que ia ser teórico e um dramaturgo bissexto. Depois até imaginei ser dramaturgo, mais regular. E eu passei a dirigir meio acidentalmente, por circunstâncias da vida. Mas eu sempre entendi a direção como algo que fosse crítico, reflexivo. Tanto que a pré-história da Cia do Latão tá no espetáculo Ensaio para Danton – baseado na Morte de Danton do Buchner – mas era ensaio no sentido de ensaio teórico, não só de ensaio teatral, a gente pensava em fazer um recorte crítico em cena, uma cena crítica. E o trabalho seguinte, o Ensaio sobre o Latão, foi em cima da teoria do Brecht, da Compra do Latão do Brecht. Então isso foi uma questão de, de certo modo, balizou o grupo – a procura de uma cena teórica, uma cena teorizante, reflexiva de algum jeito. Claro: não uma cena discursiva, mas uma cena que pusesse questões intelectuais pra quem ta vendo. E, num segundo momento, esse tipo se reflexão se impregnou um pouco a partir do contato com Brecht, a partir de um certo retorno meu e do grupo ao marxismo, isso supriu um certo interesse pela forma contraditória, pelo jeito de olhar as coisas sempre pelo ângulo contraditório e não-resolvido, pela perspectiva menos idealista e mais material. Então a gente começou a ter esse gosto pelos fragmentos explosivos, que o espectador ficasse sem entender exatamente o que é… Isso foi configurando um padrão poético, aos poucos. Foi mais ou menos por aí. É engraçado que houve uma espécie de politização relativa do trabalho, mas depois, a partir desse campo formal, de interesses formais que a gente foi tendo de início.

O humano entre os extremos

16 de janeiro de 2009 Conversas
Gilberto Gawronski na peça Medida por Medida. Foto: Paulo Severo.

Alguns autores vêm sendo determinantes na carreira de Gilberto Gawronski, como Bernard-Marie Koltès (Roberto Zucco, Na Solidão dos Campos de Algodão), Caio Fernando Abreu (Uma História de Borboletas, A Dama da Noite, Do Outro Lado da Tarde) e Hans Christian Andersen (O Soldadinho de Chumbo, A Nova Roupa do Imperador e O Patinho Feio). William Shakespeare, também. Depois de participar como ator de montagens de Sonho de uma Noite de Verão e Rei Lear, Gawronski, que se formou pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e passou um ano e meio nos Estados Unidos, apresenta agora a sua versão de Medida por Medida em espetáculo em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

O desafio da ausência de conflito

16 de janeiro de 2009 Conversas

Com a carreira estabelecida à frente da bem-sucedida Cia. Atores de Laura, que conduz ao lado de Susanna Kruger, Daniel Herz começou a se exercitar no musical – primeiro em Geraldo Pereira, um Escurinho Brasileiro e depois em Otelo da Mangueira. Diante da boa receptividade de público e crítica alcançada com os dois trabalhos, aceitou o convite do ator Marcelo Serrado para dirigir Tom & Vinicius, atualmente em cartaz no Teatro João Caetano depois de cumprir temporada de quatro meses em São Paulo. Com texto de Daniela Pereira de Carvalho, dramaturga que vem realizando vôos solos após anos de parceria com a Cia. Os Dezequilibrados, o musical valoriza a dimensão poética do encontro entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes. 

DANIEL SCHENKER – Por que você decidiu enveredar pelo ramo dos musicais?

DANIEL HERZ – Considero como a dimensão do acaso. Quando fui convidado por Cristina Lara Resende para fazer Geraldo Pereira, um Escurinho Brasileiro, nunca tinha passado pela minha cabeça entrar no campo dos musicais. Logo, desenvolvi parceria com Josimar Carneiro, na direção musical. Na verdade, eu, Josimar e Márcia Rubin formamos uma pequena equipe. Já estamos pensando no próximo trabalho juntos. 

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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