Conversas

Muros e passagens

21 de dezembro de 2013 Conversas

“Este evento, proposto por alunos representantes das cinco habilitações da Escola de Teatro da UNIRIO, tem como ponto de partida o desejo de organizar um festival integrado da Escola de Teatro, no qual os alunos dos diversos cursos poderão expor seus processos de trabalho em andamento, espetáculos apresentados nas PMTs, projetos de iniciação científica e extensão, bem como participar de oficinas, workshops e seminários interdisciplinares, com a presença de professores da casa e de convidados externos. Nesse sentido, ressalta-se o intercâmbio de ideias, produções e abordagens que, no decorrer do evento, será priorizado no bojo das atividades que terão lugar neste período, possibilitando a formação de novos laços e trocas entre grupos e companhias, pesquisadores e professores, sublinhando o caráter plural e de articulação da Universidade.”

DÂMARIS e MARIANA: O texto acima é a descrição do festival no site do FITU. Como se deu essa ideia e a articulação entre os cursos, alunos, professores e público?

EQUIPE FITU: De modo geral, o FITU é fruto de uma série de indagações e discussões iniciadas em 2012, no interior de uma disciplina do curso de Estética e Teoria do Teatro, da UNIRIO, no qual, frequentemente, nos perguntávamos pelo nosso papel e nossas possibilidades de atuação/intervenção em um curso superior de Artes Cênicas, enquanto críticos, atores, diretores, professores ou cenógrafos. Por outro lado, inúmeros alunos tinham o desejo de construir uma mostra coletiva, na qual pudéssemos abrir as portas da Escola para o público externo, construir espaços de diálogo entre nós e a comunidade e entre os próprios alunos, problematizando os (des)encontros, as fronteiras esgarçadas (mas ainda existentes) entre as habilitações – a despeito de uma formação teórica repleta de interseções. O evento, nesse sentido, foi a tentativa de responder a estes desejos e problemas, propondo outros modos de ocupação dos espaços da universidade, bem como novas dinâmicas de sociabilidade que embaralhassem um pouco as cartas distribuídas pela vinculação de cada aluno a um departamento.

Totem-fetiche – os limites do corpo

27 de agosto de 2013 Conversas
Foto: Divulgação.

Sobre a obra Totem-Fetiche, apresentada na Exposição FRONTEIRAS – Corpo, Visualidade e Política, com curadoria de Felipe Scovino e Giselle Ruiz, em cartaz na galeria do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto entre os dias 27/06 e 28/07, no Rio de Janeiro.

JOÃO – Evângelo, fale um pouco do título da sua obra.

EVÂNGELO – Acho interessante você começar me perguntando sobre o título, pois poucas pessoas me abordaram a partir dessa provocação. O título é um convite a discussões maiores, talvez maior do que o próprio trabalho. Procuro questionar a relação possível de se pensar o paradigma do corpo na nossa sociedade, ainda como tabu, sabendo que existe uma relação entre totemismo e tabu. Também convido a pensar a nudez. Numa exposição de arte contemporânea isso é até mais fácil de ser aceito. São corpos virtuais, em imagens de alta definição, de pessoas nuas, em escala natural, em combinações que misturam masculino e feminino, preto e branco. Encontrar esse “corpo” é comum?

Manipulações sonoras e visuais

27 de dezembro de 2012 Conversas

Desde o início de 2012, a companhia Alfândega 88, da qual Moacir Chaves é diretor artístico, vem ocupando o Teatro Serrador, no centro do Rio de Janeiro, com o patrocínio do Fundo de Apoio ao Teatro, da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. A companhia programa as atividades do espaço, no qual também apresenta dois espetáculos próprios em repertório – Labirinto, de 2011, e A negra Felicidade, de 2012. Esta conversa com o diretor foi realizada em julho de 2012, no âmbito do estudo para a dissertação de mestrado “Cenas da voz: A sonoridade no teatro de Aderbal Freire-Filho, Moacir Chaves e Jefferson Miranda”, recém-defendida por mim no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Unirio.

MARCIO FREITAS – Nas suas peças, eu identifico um trabalho muito particular, e de muita precisão, com a emissão vocal dos atores. Como você prepara a voz desses atores? Você tem um conjunto de exercícios que são trabalhados regularmente?

MOACIR CHAVES – Para os atores especificamente não. Porque o que eu espero dos atores é que eles tenham capacidade de execução. Portanto que eles sejam formados, que eles sejam atuadores capazes, essa é a expectativa. Eu tenho exercícios para alunos, mas esses exercícios também não são exercícios que levarão à formação, e sim à percepção da necessidade da formação.

Criação, universidade, viver junto e separado

30 de novembro de 2012 Conversas

DINAH CESARE: Estufa faz parte de um projeto do coletivo Karenkaferem. Quais são as características desse coletivo? E, nesta questão, como se materializa a ideia de artista-pesquisador?

NINA BALBI: Acho que a escolha pela nomeação “coletivo” e não “companhia” apresenta um pouco a nossa proposta. O motivo dessa nomeação é que não nos vemos como um grupo homogêneo, no sentido de fruirmos sob as mesmas ânsias de pesquisa nas artes ou empreendermos uma busca por uma linguagem determinada. O kerencaferem responde mais a uma estrutura de rede que se alimenta para sustentar, criativa e financeiramente, qualquer projeto que venha a surgir, de qualquer um dos membros ou parceiros. No sentindo amplo da palavra, vejo que somos um coletivo de produtores culturais. Se um membro do coletivo apresenta um projeto, nos colocamos como realizadores. De acordo com os afetos e disponibilidades, algumas pessoas ingressam em sua pesquisa artística, outras se colocam como realizadoras, no sentido da produção e da articulação. Este formato nos permite transitar entre muitas funções e pensar a ética da produção cultural de forma verticalizada, o que penso, é o principal objetivo do coletivo. Entendemos o coletivo como uma superfície de encontro de individualidades. Cada um de nós tem um vínculo muito próprio com o ofício, além de virmos de diferentes áreas das artes. O que acontece é que, sendo cada um de nós um propositor e um criador, que responde às suas próprias ânsias, nossas obras se ramificam e ganham expressões singulares. Assim, a mesma obra volta ao coletivo sob visões múltiplas, de forma que nos retroalimentamos e potencializamos tanto os encontros quanto as diferenças. É claro que esse convívio íntimo que lida com paixão e criação acaba nos aproximando enquanto artistas e hoje, penso, temos muitas afinidades e terrenos comuns conquistados. Falamos línguas parecidas.

Um trabalho fundamentado no ator, nos espaços e nas relações

17 de maio de 2012 Conversas
Foto do espetáculo Ô Lili: Divulgação.

DINAH CESARE: O trabalho da Cia Marginal se diferencia de algumas outras experiências de teatro em projetos sociais. Qual seria o elemento diferenciador neste caso?

ISABEL PENONI: Eu acho que tem uma coisa que é definidora no caso da Cia Marginal desde o início, ainda quando a gente trabalhava dentro de uma estrutura de financiamento social, nós já tínhamos a pretensão da realizar um trabalho de criação. Eu digo nós, por que éramos eu e a Joana Levi. Um projeto de criação, de experimentação, de pesquisa, de criar em um contexto diferente daquele que a gente vinha criando. Eu trabalhava como atriz, então experimentar era levar à frente um trabalho de criação dentro de um contexto bastante diferente do nosso. Já existia esta pretensão desde o inicio, mesmo dentro dos projetos sociais e mesmo tendo uma perspectiva um pouco mais pedagógica. Porque nós estávamos dentro do universo da arte educação, mas naquele espaço importava a ideia de criação. O trabalho chegou num ponto em que ele não aprofundava mais porque existia uma estrutura de oficina, de entra e sai de gente. Porém, existia um grupo que era constante e uma qualidade de trabalho com aquele grupo. Mas ele não avançava porque tinha sempre gente entrando e saindo e a “coisa” tinha sempre que começar do zero com novas pessoas. Então a partir de um momento nós resolvemos fechar o grupo. Na verdade eu acho que a transição foi de estrutura, de formato e não do que se fazia ali dentro. Superamos um formato de oficina, de projeto social para grupo de teatro. Essa é a mudança maior, definidora e divisora de águas ali.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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