Tag: Rosyane Trotta
14.654 Tróias
Sentei-me sem perguntas à beira da terra,
e ouvi narrarem-se casualmente os que passavam.
Tenho a garganta amarga e os olhos doloridos:
deixai-me esquecer o tempo,
inclinar nas mãos a testa desencantada,
e de mim mesma desaparecer,
— que o clamor dos homens gloriosos
cortou-me o coração de lado a lado.
(Cecília Meireles. In: Mar Absoluto)
Guerras: Médicas; Púnicas; Hussitas. Das Rosas; Do Peloponeso; De Secessão e Sucessão. Dos 100, 13, 30 ou 80 anos. Mundiais. Ao longo de milênios, 14.654 guerras, – em permanente expansão numérica: intermitentes, ilimitadas, diplomáticas, de guerrilha; civil, revolucionária, subversiva, fria; nuclear, biológica ou química. A história do homem é também a história das guerras.
Retornar à Guerra de Troia, a mais emblemática das guerras de que se tem notícia. Embarcar em naus rumo aos episódios legendários, que nos chegaram pela via da poesia épica de Homero, de existência tão controversa e enigmática quanto à autoria de suas obras, inauguradoras da literatura ocidental: a Ilíada e a Odisseia.
Um trabalho fundamentado no ator, nos espaços e nas relações
DINAH CESARE: O trabalho da Cia Marginal se diferencia de algumas outras experiências de teatro em projetos sociais. Qual seria o elemento diferenciador neste caso?
ISABEL PENONI: Eu acho que tem uma coisa que é definidora no caso da Cia Marginal desde o início, ainda quando a gente trabalhava dentro de uma estrutura de financiamento social, nós já tínhamos a pretensão da realizar um trabalho de criação. Eu digo nós, por que éramos eu e a Joana Levi. Um projeto de criação, de experimentação, de pesquisa, de criar em um contexto diferente daquele que a gente vinha criando. Eu trabalhava como atriz, então experimentar era levar à frente um trabalho de criação dentro de um contexto bastante diferente do nosso. Já existia esta pretensão desde o inicio, mesmo dentro dos projetos sociais e mesmo tendo uma perspectiva um pouco mais pedagógica. Porque nós estávamos dentro do universo da arte educação, mas naquele espaço importava a ideia de criação. O trabalho chegou num ponto em que ele não aprofundava mais porque existia uma estrutura de oficina, de entra e sai de gente. Porém, existia um grupo que era constante e uma qualidade de trabalho com aquele grupo. Mas ele não avançava porque tinha sempre gente entrando e saindo e a “coisa” tinha sempre que começar do zero com novas pessoas. Então a partir de um momento nós resolvemos fechar o grupo. Na verdade eu acho que a transição foi de estrutura, de formato e não do que se fazia ali dentro. Superamos um formato de oficina, de projeto social para grupo de teatro. Essa é a mudança maior, definidora e divisora de águas ali.
Ambiguidades sutis
A Cia Marginal está em cartaz com Ô Lili na sede da Cia dos Atores no bairro da Lapa. O espetáculo estreou em maio de 2011 no Teatro Maria Clara Machado. Ô Lili é o segundo trabalho da Cia (o primeiro foi Qual é a nossa cara?), que é integrada por jovens moradores do Complexo de Comunidades da Maré e que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos seis anos em formas diferenciadas de oficinas e de apresentação de trabalhos. A pesquisa deste segundo espetáculo partiu de uma série de conversas realizadas com detentos do sistema prisional da cidade e que o grupo materializou por meio de uma criação coletiva, sob a direção de Isabel Penoni.