Autor Dinah Cesare

O silêncio desdobrado no espaço

26 de janeiro de 2010 Críticas

Foto Emiliano Capozoli/Divulgação

O espetáculo Strindbergman tem sua ideia originária e formalização na esfera da referência. Quando explicita a imbricação e relação entre o dramaturgo August Strindberg e o cineasta Ingmar Bergman, parece abrir para o espectador as condições de possibilidades de realizar suas próprias dobras. Portanto, este âmbito de criação quase barroca nos permite encontrar aí seu lugar como obra contemporânea. Permitam-me ver o espetáculo a partir de um olhar de referências, a partir de minhas dobras.

Utilizo para o espetáculo o termo contemporâneo de forma mais livremente do que em relação à noção de “Teatro Pós Dramático” de Hans-Thies Lehmann. No livro do mesmo nome, Lehmann discorre a respeito de uma nova poética que é uma espécie de formalização teatral em resposta às transformações artísticas operadas desde as vanguardas históricas em conjunto com os contextos comunicacionais e com a ampla difusão da tecnologia da informação no século XX.

Ideologias na primeira pessoa

10 de maio de 2009 Críticas
Atores: Thiago Fragoso e Otávio Augusto. Foto: Chico Lima.

O espetáculo Rock’n’roll encena o texto de Tom Stoppard, que abarca de forma lírica, ou seja, por meio de diversas subjetividades, a invasão soviética à Tchecoslováquia , cobrindo um período que vai de 1968 a 1990 desde a Primavera de Praga até Revolução de Veludo. O painel humano da história está tensionado por duas personagens emblemáticas, o jovem idealista Jan e o velho professor marxista Max, que, ao longo da peça, têm suas vidas desconstruídas pela força do contexto social assolado pela batalha travada entre questões da razão e da sensibilidade.

Avessamentos

10 de março de 2009 Críticas

A performance passou a ser considerada uma expressão artística independentemente de definições na década de 1970, época em que o conceito se impunha mais do que o produto propriamente dito. Quando pensamos em performance, pode surgir a idéia de que ela tem como um de seus objetivos ou conseqüências provocar o choque. Os artistas elaboravam manifestações em espaços urbanos, avaliando de certa forma o fazer artístico em meio ao cotidiano das pessoas. O choque podia ser compreendido tanto pelo lado de quem fazia, quanto pelo lado da recepção, pois não era possível prever as reações. Uma das idéias de performance está associada mesmo à sua característica de acontecer uma vez e nem sempre deixar registro. O caso feliz da Companhia Excessos de Portugal é que ela realiza uma gravação do seu trabalho e veicula na internet, como no caso da performance O outro beijo no asfalto. O que acontece é que mais pessoas podem se envolver e os sentidos se alastram. Esse texto, portanto, é um exercício crítico mediado pelas imagens capturadas por outro, já nasce de uma operação de olhar conjunto e se constrói mais obviamente por uma alteridade.

Entre o ruído e o esvaziamento

10 de fevereiro de 2009 Críticas
Foto: divulgação.

A experiência de arte da linguagem teatral parece estar sempre de um certo modo atravessando as noções de ficção e  de realidade. O teatro tem um estatuto duplo – a presença e o remetimento para outra cena. Isso constitui um modo de estar no tempo sempre complexo e paradoxal. O teatro contemporâneo investiga esse paradoxo e, por vezes, pode abrir uma clareira na qual o espectador, por meio da construção artificial que se dá, tenha a experiência de um mais puro real, ou seja, de um aqui e agora recheado de temporalidades distintas. Do modo como eu percebo, o espetáculo Um homem e três janelas, realizado pela Companhia de Teatro das Inutilezas, dá a ver uma cena que promove um trânsito por essas noções.

Uma viagem pelo gosto

16 de janeiro de 2009 Críticas
Atrizes: Patrícia Selonk, Verônica Rocha, Simone Mazzer e Simone Vianna. Foto: divulgação.

O espetáculo Inveja dos anjos, da Armazém Companhia de Teatro, proporciona uma experiência que contribui para o exercício do olhar crítico, na singularidade que o constitui como um olhar de fora. No espectro que esse olhar descortina, a perspectiva da qual escrevo é a questão do gosto. Esclareço que o olhar a que me refiro não é aquele que não se afeta, mas por ser distinto do olhar de quem age – o artista – está desobrigado em relação aos eventuais objetivos da obra. Portanto, trata-se de um olhar que não procura por familiaridades ou pelo igual, mas devido ao seu desejo de imparcialidade dá passagem para novos sentidos.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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