Tag: cia de teatro das inutilezas
Entre o ruído e o esvaziamento

A experiência de arte da linguagem teatral parece estar sempre de um certo modo atravessando as noções de ficção e de realidade. O teatro tem um estatuto duplo – a presença e o remetimento para outra cena. Isso constitui um modo de estar no tempo sempre complexo e paradoxal. O teatro contemporâneo investiga esse paradoxo e, por vezes, pode abrir uma clareira na qual o espectador, por meio da construção artificial que se dá, tenha a experiência de um mais puro real, ou seja, de um aqui e agora recheado de temporalidades distintas. Do modo como eu percebo, o espetáculo Um homem e três janelas, realizado pela Companhia de Teatro das Inutilezas, dá a ver uma cena que promove um trânsito por essas noções.
Acúmulo e destruição/Pesadelo logístico

Acúmulo e destruição
Por Dinah Cesare
A obra é realmente uma coisa cheia de enigmas. Ela tem a particularidade de ser potência de atualização. O que eu quero dizer é que não é uma questão da obra incidir sobre nossa memória pura e simplesmente: ela tem a potência de atualizar nossos afetos durante o evento. E isso acontece por meio das estruturas mentais do indivíduo, que durante aquele determinado tempo funcionam de modo diferenciado dos momentos ordinários. Creio que o trabalho em processo Um homem e três janelas, que está sendo apresentado no Café Cultural, formaliza sua fisionomia na tensão própria ao funcionamento do embrião de uma nova máquina – entre as engrenagens originárias e uma nova tecnologia. A estrutura do jogo da memória que a uma das atrizes desenha à nossa frente é jogo por natureza e máquina por conta de sua destreza tensa.