Autor Daniele Avila Small

Atos físicos da memória, re-inscrições na História

14 de outubro de 2010 Críticas

“Quando eu tinha sete anos, vestia a roupa da minha mãe e caminhava pela casa pisando no vestido, como se fosse uma rainha em miniatura. Vinte anos depois acho uma calça jeans anos setenta da minha mãe que é exatamente do meu tamanho. Visto a calça e começo a caminhar em direção ao passado.”
Fala de Liza Casullo em Mi vida después

A peça Mi vida después, que tem dramaturgia e encenação de Lola Arias, estreou em março de 2009 no contexto do Projeto Biodrama, ciclo desenvolvido pela diretora Vivi Telas na Sala Sarmiento do Complejo Teatral de Buenos Aires, que tem a proposta de partir de narrativas da vida real para a criação teatral. Mais de um ano depois de sua estreia e após ter feito apresentações em diferentes cidades, o espetáculo fez duas apresentações no Rio, integrando a programação do ArtCENA.festival.em.criação.

Traços por toda parte

17 de setembro de 2010 Estudos

Este artigo foi escrito em 2008, numa primeira aproximação com a peça Tentativas contra a vida dela, de Martin Crimp, cujo projeto de montagem foi elaborado no início de 2009 e estreou em maio de 2010 no CCBB de Brasília.

A proposta deste estudo é analisar as peças Grande e pequeno de Botho Strauβ e Tentativas contra a vida dela de Martin Crimp, a partir da idéia de drama de estação. Algumas considerações serão feitas a partir de aproximações entre essas duas peças e O sonho de August Strindberg. Pretendo especular sobre a possibilidade de ler as peças de Strauβ e Crimp como tentativas contra o drama de estação a partir da utilização dessa mesma estrutura.

Em O sonho, a personagem central, Inês, tem o propósito de experimentar o mundo dos homens, vivê-lo. Ela passa por uma série de quadros que contêm situações humanas pelas quais ela precisa passar. Esses quadros têm elementos em comum, entre eles, uma porta que precisa ser atravessada. Há, na dramaturgia de Strindberg, uma luta contra alguma coisa, seja contra a miséria dos homens, como em O sonho, ou contra alguma espécie de destino ou ainda contra culpas do passado, como em O caminho para Damasco. Inês tem uma trajetória. Ela entra no mundo, passa por situações que fazem com que ela conheça esse mundo, depois vai embora com algumas conclusões. Ela não deixa de ser Inês, filha de Indra, e sua opinião sobre os homens, de que eles são dignos de lástima, é a mesma do início ao fim. O protagonista de O caminho para Damasco também não se transforma, ele segue cometendo os mesmos disparates, como jogar dinheiro fora quando está a ponto de ficar sem dinheiro nenhum, e segue esbravejando contra Deus. O percurso que eles fazem é uma espécie de volta sobre si mesmo.

Nome, dança, espaço, alteridade, autoria

31 de maio de 2010 Críticas
Vida. Foto: Bruno Tetto

Procuro aqui puxar e ligar alguns fios. Dois espetáculos fizeram curtas temporadas no Rio de Janeiro nesse mês de maio: Otro or weknowitsallornothing, do Coletivo Improviso, do Rio, e Vida, da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba. Otro estreou aqui com jeito de pré-estreia, fez três semanas na programação do Projeto Entre, no Espaço Cultural Sérgio Porto e segue para outros países. Vida, depois de estrear no Festival de Curitiba e cumprir temporada por lá, fez seis apresentações no Espaço Tom Jobim.

Ritmo, estratégia crítica

19 de março de 2010 Críticas
Ator: Leonardo Corajo. Foto: divulgação.

Para falar sobre Manifesto Ciborgue, pode-se partir de diferentes pontos como, por exemplo, o ensaio de Donna Haraway A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century. Não é disso que se trata essa tentativa de aproximação. Mas duas coisas podem ser pescadas desse título/referência: a questão “manifesto” e o fato de que este espetáculo não toma como ponto de partida uma fábula, uma pesquisa formal ou a experimentação de um modo de fazer, mas dá uma pista de que seu ponto de partida é uma questão, um problema, por assim dizer, do mundo. Ou ainda, parece que o espetáculo parte do conceito mesmo de ciborgue.

Sobre cânones e bruxas

27 de fevereiro de 2010 Críticas
Renata Sorrah e Daniel Dantas. Foto: Chico Lima.

A montagem de um texto como Macbeth, que tem não apenas um sem fim de estudos na sua história, mas também carrega consigo uma série de expectativas por parte dos espectadores, acaba por colocar os artistas envolvidos numa situação um tanto particular. Parece que todo o mundo tem uma opinião prévia sobre como se deve (ou como não se deve) fazer Macbeth. A liberdade de criação, a escolha de uma leitura mais radical, ficam às vezes tolhidas pela carga de conhecimento que é exigida de quem vai fazer e que serve de arma – e de escudo – para quem vai assistir. Diferentemente da criação de um espetáculo que desenvolve sua própria dramaturgia e estabelece suas próprias premissas, a realização de uma montagem de um clássico esbarra nessa rede de preconceitos que envolve a todos: espectadores, críticos e artistas.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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