Autor Raphael Cassou
Arquiteturas de um duplo homicídio
Vol. VIII nº64, maio de 2015.
Resumo: O presente artigo tem como escopo um olhar sobre o processo de criação e de ensaios do espetáculo Duplo homicídio na Chaptal 20, da companhia curitibana Vigor Mortis. No texto, há conjecturas ainda sobre os aspectos do processo de construção dramatúrgica e cênica vivenciados pelo autor deste texto, nas funções de dramaturgista e ator ao lado da Vigor Mortis. Chaptal 20 se refere ao endereço do célebre Théâtre du Grand Guignol de Paris, que abrigou em seu palco centenas de peças de horror e violência. Desde sua fundação em 1997, a Vigor Mortis estuda e pesquisa o gênero e a estética do Grand Guignol. Duplo Homicídio na Chaptal 20 foi apresentada pela primeira vez ao público curitibano no mês de novembro de 2014 no Teatro Novelas Curitibanas.
Miséria e morte em confronto
“Pois toda a vida é sonho, e os sonhos, sonhos são.”
Pedro Calderón de la Barca em A vida é sonho
O Núcleo Ás de Paus, companhia baseada na cidade de Londrina, trouxe para a quinta edição carioca do Festival Palco Giratório, realizada no mês de maio, a peça A pereira da Tia Miséria. O espetáculo é baseado em um conto popular espanhol homônimo e apresenta uma metáfora sobre o ciclo da vida e seus desdobramentos, rememorando aos espectadores que a tríade nascimento-crescimento-morte faz parte do fluxo natural de todo ser.
O aventureiro das mil e uma noites
O livro das mil e uma noites é uma coleção de histórias e contos populares originárias do Médio Oriente e do sul da Ásia, compiladas em língua árabe. Sua origem não é exata, mas os primeiros registros de sua existência datam da segunda metade do século IX. A obra passou a ser mundialmente conhecida a partir de sua tradução para o francês pelo orientalista Antoine Galland em 1704. O livro das mil e uma noites transformou-se em um clássico da literatura mundial. Dentre os diversos contos e histórias que compõe o livro podemos destacar as aventuras de Aladim, de Sherazade e de Simbá, o marujo.
O desejo paradoxal de ter e querer
30 de Abril de 1993:
A tenista Monica Seles, então número um do ranking mundial, foi esfaqueada durante uma partida das quartas-de-final do Torneio de Hamburgo. O autor do atentado, o alemão Günter Parche, foi durante anos obcecado pela tenista alemã Steffi Graf, principal concorrente de Seles. A obsessão de Günter por Graff começou em 1985, quando a viu em um programa de televisão. A partir de então, passou a escrever cartas para a tenista e para sua mãe. Chegou a mandar dinheiro, forrar as paredes de seu quarto com fotos gigantescas da moça e não perdia nenhum de seus jogos. Ela era a criatura de seus sonhos, com olhos de diamantes e cabelos de seda brilhantes, conforme afirmou após o atentado contra Mônica Seles. Ele cometeu o ataque com o objetivo de fazer com que seu objeto de adoração voltasse a figurar no topo do ranking mundial. O plano foi arquitetado quando a tenista foi derrotada por Monica Seles em 1990, durante o German Open.
Sobre os questionamentos e as dificuldades das relações afetivas
Existe a possibilidade de duas pessoas permanecerem juntas sem saber, com absoluta certeza, o que sentem e como sentem o que sentem uma pela outra?
A Probástica Companhia de Teatro tenta responder a esta pergunta ao trazer para o Teatro Gláucio Gill o seu primeiro trabalho, a peça [Des]conhecidos que segue em temporada até o dia 11 de junho. A peça se escora em um enredo um tanto quanto trivial nos dias de hoje. Um encontro às cegas é marcado para acontecer em um bar. O primeiro contato se dá através de um site de encontros na internet. Um dos envolvidos chega, encontra o bar lotado e não avista seu par. Em uma das mesas há uma pessoa sozinha. O primeiro então se aproxima, pede licença para se sentar apenas para aguardar um lugar vago que possa ocupar. Neste momento, meio que casualmente, um rápido diálogo se estabelece e com o desenrolar do papo, os dois descobrem que eram eles que se falavam via internet. Os dois desenvolvem uma relação – fortuita, sem garantias de compromisso duradouro ou laços rígidos – mas há um problema: um deles não acredita no amor. A partir desta constatação, o casal recém formado esbarra nas fragilidades e inseguranças que um relacionamento aberto sugere e os dois passam a questionar seus conceitos sobre o amor, cada um sob seu ponto de vista.