Críticas

Hoje tem espetáculo

10 de fevereiro de 2009 Críticas

Ator: Daniel Boone. Foto: Yuri Salvador.

O título do espetáculo já nos coloca algumas questões. Primeiro, desafia o suposto antagonismo entre o grande e o ínfimo e, depois, o circo como uma palavra-chave ou cartografia do ser que transita a circularidade como percurso da angústia. O circo é a ciranda, o mundo rodando, passando por nós, andando em círculo. O percurso do ir sem ter para onde ir, um estar estando. Mas não se trata de uma angústia psicológica e, tampouco, do ressentimento. Diz respeito a um estágio de consciência onde o niilismo se dá como possibilidade da busca. A busca do que não pode ser encontrado, mas como negação do imobilismo. É dizer que, aqui, o niilismo não pode ser confundido com a apatia, mas como aquilo que é afeto, considerando que só atribuímos qualquer juízo de valor a aquilo que nos afeta, seja amor ou ódio. Não há espaço para a indiferença. Cinco personagens, cinco pontas da estrela, cinco artistas, o estrelato, mesmo que em decadência. Mas o movimento da decadência e da ascensão são pontos diferentes do mesmo.

Por que o mesmo? A possibilidade é o distanciamento

10 de fevereiro de 2009 Críticas

Jogo de tabuleiro com a única amiga nas repetidas tardes apáticas de domingo, na cidade grande. Pode lembrar cena de filme, o capítulo de um livro, partes da própria vida, ou então, outra peça que você já viu ou ouviu falar em algum lugar. As personagens de Quase para sempre, de Bosco Brasil, são as velhas conhecidas pessoas que saíram do interior familiar para viver na capital anonimamente.

A solidão que não é opção, a solidão de quem não quer ser sozinho. É este o sentimento que torna vulneráveis as personagens, que permite a alguém querer ser amiga de quem aos poucos pode matá-la, ou, que permite a um oportunista querer ser amigo de sua presa. Um eco de todas as histórias de estranhos que se encontram casualmente em salas de espera de consultórios médicos, filas de banco, corredores de supermercados, ect. e que só precisam de um pretexto para se relacionarem, como, por exemplo, querer emagrecer (mesmo que não seja preciso). Daí para dar um telefonema, para tocar a campainha e ter mais um estranho na sua sala te ensinando a tomar pílulas para perder peso é só uma cena. E para este mesmo estranho ser outro participante do jogo de tabuleiro de domingos apáticos é um black-out, contra-regras que mudam a disposição de alguns móveis do cenário, aumento do número de peças do jogo, outra cena. Seria essa então a diferença desta montagem sobre os tipos emigrantes que um dia irão querer voltar para casa?

Entre o ruído e o esvaziamento

10 de fevereiro de 2009 Críticas
Foto: divulgação.

A experiência de arte da linguagem teatral parece estar sempre de um certo modo atravessando as noções de ficção e  de realidade. O teatro tem um estatuto duplo – a presença e o remetimento para outra cena. Isso constitui um modo de estar no tempo sempre complexo e paradoxal. O teatro contemporâneo investiga esse paradoxo e, por vezes, pode abrir uma clareira na qual o espectador, por meio da construção artificial que se dá, tenha a experiência de um mais puro real, ou seja, de um aqui e agora recheado de temporalidades distintas. Do modo como eu percebo, o espetáculo Um homem e três janelas, realizado pela Companhia de Teatro das Inutilezas, dá a ver uma cena que promove um trânsito por essas noções.

Missão cumprida

16 de janeiro de 2009 Críticas
Atriz: Marta Haas. Foto: Cisco Vasques.

A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, está completando 30 anos de vida, ao longo dos quais construiu uma elogiável folha de serviços prestados ao teatro gaúcho e brasileiro, uma referência histórica e cultural que não pode ser ignorada. Em função das dificuldades de locomoção e da pouca projeção propiciada pela mídia sulista em relação ao resto do país, a Tribo padece de pouca divulgação junto ao grande público brasileiro.

Viril delicadeza

16 de janeiro de 2009 Críticas

“Queríamos tanto salvar o outro.
Amizade é matéria de salvação.
(…)
Mas todos os problemas já tinham
sido tocados, todas as possibilidades estudadas.
Tínhamos apenas essa coisa que havíamos
procurado sedentos até então e enfim encontrado:
Uma amizade sincera.”
Clarice Lispector 

Assistir aos atos concentrados dos Prêt-à-porter dos atores-criadores de Antunes Filho, depois ver esta peça que vem de Minas Gerais pela Cia. Luna Lunera, ajuda a reconhecer certos traços que vem a definir um teatro contemporâneo mais inventivo que se desenha no Brasil. Um teatro que aspira à comunicação com o público, mas sem cair na armadilha da encenação fácil, porque mais centrado no ator, reduzindo os demais elementos a um mínimo que tenciona para, da contenção, extrair o máximo de expressividade. Tudo o que não é pouco.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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