Autor Wilson Coelho

Marianne Lamms

10 de julho de 2009 Traduções

Diversas testemunhas disseram tê-la visto em companhia de Artaud. Ela fora membro do “Grand Jeu” (Grande Jogo), onde Roger Vailland a teria introduzido. Depois disso, ela faria do jornalismo tudo para prosseguir obstinadamente em suas pesquisas em astrologia, geomancia e numerologia. Paixão dos números a qual Daumal e Gilbert-Lecomte a tinham encorajado. Ele não estava surpreso que isso a conduziria a cruzar um dia a rota de Artaud. Ela não o tinha encontrado muitas vezes, mas algumas trocas seriam suficientes para que ela ficasse impressionada com a vida. Ainda hoje, ela o confunde numa lembrança um pouco fascinada com seus amigos do Grande Jogo.

Pergunta: O que você fez para conhecer Artaud em sua época?

Resposta: Isso se passou em 1933, no momento, eu creio, quando ele preparava Heliogábalo. Roger Gilbert-Lecomte é que me tinha sugerido a encontrá-lo. Ele me dizia mais ou menos: “É pena que não o conheça, com as pesquisas que você faz!” Eu compreendi mais tarde que ele tinha, ao mesmo tempo, falado de mim a Artaud. Ele o amava muito. Daumal também, mas um pouco menos. Sim, o pintor era mais reservado: quando soube que eu tinha visto Artaud, me disse para ficar atenta.

Dogville ou uma estética brechtiana no cinema

10 de maio de 2009 Estudos

Os encartes de cultura e as matérias pagas dos jornais, os cinéfilos de monografias acadêmicas e os releases de distribuidoras de filmes podem até dizer o que quiserem, até porque muitos dos que dizem o que querem não querem o que dizem, mas – aqui para nós – essa leitura de que Lars von Trier, em Dogville, está contando uma história sobre a crueldade humana é, no mínimo, uma tremenda miopia por reduzir a idéia de humano a partir de estreitos conceitos ocidentais e ocidentalizados do modo acidentalmente cristão de atribuir sentido ao mundo, se é que existe alguma eficácia nessa possibilidade. Aliás, ficaria até interessante aqui, em Dogville, brincar com o anagrama e inverter as letras de Dog para God, considerando que o Dog (cão) do filme se chama Moisés (em hebreu, Mosché), o mesmo que apresenta aos humanos a tábua dos 10 mandamentos da lei de God (deus). Por uma visada bastante irônica, também podemos afirmar que aqui, o “nosso” Moisés, também nos ofereça como mandamentos os 9 capítulos fornecidos no filme como uma anunciação, através de uma espécie de álbum seriado apresentando os temas das cenas que se seguem, deixando o 10º para ser escrito pelo próprio espectador.

Uma amiga anônima de Artaud

10 de abril de 2009 Traduções

Conversa de Alain e Odette Virmaux, realizada em 1978, com uma mulher que foi muito amiga de Antonin Artaud e que não quis que seu nome fosse revelado. Este texto foi traduzido em 1996 por ocasião do centenário de nascimento de Artaud.

Pergunta: Você foi amiga de Antonin Artaud, e uma amiga fiel, pois você pertence ao pequeno número daqueles que não o abandonaram na época dos internamentos. Você foi vê-lo no manicômio de Ville-Évrard e lhe escreveu quando estava internado em Rodez. Quinze anos antes, você esteve brevemente colaborando com ele para o Teatro Alfred-Jarry. Adivinha-se a riqueza dessa longa amizade e pressente-se que você seja talvez uma das pessoas mais indicadas para falar dele sem deformá-lo. Ora, você tem se abstido de se juntar ao coro inumerável de todos esses que o tem evocado frequentemente, mesmo o tendo conhecido muito menos que você. Por que esse silêncio?

Hoje tem espetáculo

10 de fevereiro de 2009 Críticas

Ator: Daniel Boone. Foto: Yuri Salvador.

O título do espetáculo já nos coloca algumas questões. Primeiro, desafia o suposto antagonismo entre o grande e o ínfimo e, depois, o circo como uma palavra-chave ou cartografia do ser que transita a circularidade como percurso da angústia. O circo é a ciranda, o mundo rodando, passando por nós, andando em círculo. O percurso do ir sem ter para onde ir, um estar estando. Mas não se trata de uma angústia psicológica e, tampouco, do ressentimento. Diz respeito a um estágio de consciência onde o niilismo se dá como possibilidade da busca. A busca do que não pode ser encontrado, mas como negação do imobilismo. É dizer que, aqui, o niilismo não pode ser confundido com a apatia, mas como aquilo que é afeto, considerando que só atribuímos qualquer juízo de valor a aquilo que nos afeta, seja amor ou ódio. Não há espaço para a indiferença. Cinco personagens, cinco pontas da estrela, cinco artistas, o estrelato, mesmo que em decadência. Mas o movimento da decadência e da ascensão são pontos diferentes do mesmo.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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