Jogo de tabuleiro com a única amiga nas repetidas tardes apáticas de domingo, na cidade grande. Pode lembrar cena de filme, o capítulo de um livro, partes da própria vida, ou então, outra peça que você já viu ou ouviu falar em algum lugar. As personagens de Quase para sempre, de Bosco Brasil, são as velhas conhecidas pessoas que saíram do interior familiar para viver na capital anonimamente.

A solidão que não é opção, a solidão de quem não quer ser sozinho. É este o sentimento que torna vulneráveis as personagens, que permite a alguém querer ser amiga de quem aos poucos pode matá-la, ou, que permite a um oportunista querer ser amigo de sua presa. Um eco de todas as histórias de estranhos que se encontram casualmente em salas de espera de consultórios médicos, filas de banco, corredores de supermercados, ect. e que só precisam de um pretexto para se relacionarem, como, por exemplo, querer emagrecer (mesmo que não seja preciso). Daí para dar um telefonema, para tocar a campainha e ter mais um estranho na sua sala te ensinando a tomar pílulas para perder peso é só uma cena. E para este mesmo estranho ser outro participante do jogo de tabuleiro de domingos apáticos é um black-out, contra-regras que mudam a disposição de alguns móveis do cenário, aumento do número de peças do jogo, outra cena. Seria essa então a diferença desta montagem sobre os tipos emigrantes que um dia irão querer voltar para casa?