Críticas

Epílogo, resíduo ou conclusão

10 de abril de 2008 Críticas
Performance Luz (-). Foto: Dalton Camargos

O programa 3 do festival Resta pouco a dizer traz as peças de Beckett Eu não e Rascunho para Teatro II, além das performances Luz –, Respiração – e Luz +. Há também outra performance cujo nome não consta no programa da peça. A performance inicial, Luz –, funciona, por semelhança aos programas 1 e 2, como um prólogo. Ela anuncia a polaridade luz/escuridão como tema. O desenvolvimento do tema, no entanto, não vai além do que já está apresentado no prólogo: tanto esta performance como as que vão ser apresentadas a seguir parecem não explorar o tema de fato, elas têm uma função apenas ilustrativa. A simplicidade das performances do programa 2 se tornou simplificação no programa 3.

Somos todos irmãos?

6 de abril de 2008 Críticas

Ator: Rodolfo Vaz. Foto: divulgação.

 

Salmo 91, dirigido por Gabriel Villela, que está em cartaz no Teatro Poeira, encena a dramaturgia de Dib Carneiro Neto baseada no livro Estação Carandiru de Drauzio Varella. A encenação é composta por uma estrutura de monólogos, onde os atores representam personagens inspirados em participantes do trágico acontecimento. São ao todo dez depoimentos que se sucedem sem a intermediação de uma narrativa dramática que os ligue. A idéia contida nesta estrutura é a de que estamos diante de uma fatia da realidade, que no caso, significa ouvir dos próprios presos sua versão dos fatos. Esse modo de composição geralmente causa uma sensação de crença no que estamos assistindo, ou seja, que a cena representa um acontecimento real.

O que sobra do ritual?

6 de abril de 2008 Críticas
Ator: Henrique Gusmão. Foto: divulgação.

Para a Cia Studio Stanislavski, parece haver algo na relação entre ator e platéia que se perderia com a distância física. Em seus trabalhos, sempre executados para poucos espectadores, as figuras em cena estão muito próximas do público, não exatamente solicitando a participação desse público no desenvolvimento da narrativa, mas demandando uma presença interessada, atenta. Em seu mais recente espetáculo, Todo o tempo do mundo, em cartaz no Teatro Maria Clara Machado, o espectador é conduzido ao espaço cênico pela própria diretora Celina Sodré, não sem antes ter recebido recomendações para desligar celulares, não alterar a posição das cadeiras dispostas pelo espaço e fruir da apresentação.

Um pouco de fôlego

20 de março de 2008 Críticas
Foto: divulgação

O programa 1 do festival Resta pouco a dizer apresentou, como uma espécie de prólogo no térreo do Oi Futuro, a performance Respiração +, em que dois atores, cada um em um tanque cheio d’água, alternam suas falas com momentos de imersão. Depois deste primeiro momento, o público vai para a sala de espetáculo e vê apenas as peças de Beckett no palco. A projeção das rubricas no tecido translúcido que cobre a boca de cena já indica a valorização da escrita do autor – ou eu deveria dizer da escrita de autor. Com isso, quero dizer que a montagem parece mostrar um interesse em revelar a voz do dramaturgo como pensador da cena e não apenas como criador de cenas. Aquela performance que foi vista no térreo fica quase esquecida – mas apenas quase. O folder que apresenta a programação completa anuncia para os próximos programas outras performances que prometem, pelo título, dialogar com aquela: A repetição da primeira, além de Respiração I, Respiração II e Respiração embolada no programa 2 e, ainda, Respiração – no programa 3.

No trajeto entre uma idéia e sua concretização

20 de março de 2008 Críticas
Atriz: Marcela Moura. Foto: divulgação.

A montagem de André, que esteve em cartaz no Oi Futuro entre novembro de 2006 e fevereiro de 2007, pode ser pensada a partir de alguns pontos: a problemática da trajetória entre uma idéia e sua realização – que terá aqui maior atenção; o lugar da pesquisa de linguagem no circuito carioca; e o interesse de um público não-especializado por este tipo de trabalho. O programa da peça dá ao espectador uma idéia da concepção inicial do trabalho, das expectativas da atriz e idealizadora do projeto Marcela Moura, das intenções da diretora Christiane Jatahy, além de ilustrar um possível contexto teórico do qual o projeto se avizinha, através de citações de autores presentes no universo acadêmico como Michel Maffesoli, Beatrice Picon-Valin e Georges Didi-Huberman. Mesmo apresentando o projeto como parte de uma pesquisa de mestrado, o tom dos textos do programa causa a impressão de que a peça não se dirige apenas a um público especializado, mas antes a um público especialmente interessado.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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