Críticas

O processo – Teatro na Justiça

10 de maio de 2008 Críticas

O projeto Teatro na Justiça, dirigido por José Henrique, procura investigar obras “fundamentais para a compreensão de valores da Justiça” e apresentar os resultados deste trabalho em forma de “espetáculo-leitura”. O processo, em cartaz no Teatro Maison de France, adaptação da obra homônima de Franz Kafka, é a segunda dessas produções que é transformada em encenação para o circuito teatral. A primeira obra encenada foi A pane, de Friedrich Dürrenmatt. Essas duas escolhas parecem apontar para a discussão de valores surgidos na modernidade que fizeram frente aos modelos metafísicos que defendiam princípios eternos e objetivos. No contexto moderno pós-metafísico, o homem precisa operar suas próprias leituras e arriscar sentidos para a história. Esse pensamento parece caro ao projeto do Teatro na justiça, sobretudo por ter fundamentado seu trabalho na relação entre teatro e literatura, que pressupõe operações de releitura, tanto por parte da adaptação dramatúrgica quanto da direção, dos atores, dos procedimentos cênicos, e conseqüentemente, do público. Portanto, a releitura, ou seja, a construção própria da história, parece ser uma das perspectivas possíveis para analisar o espetáculo.

Identidade ou diversidade

10 de maio de 2008 Críticas

Os conflitos do Oriente Médio já renderam milhares de páginas jornalísticas e literárias. Muito se confabulou sobre porque toda essa barbárie está acontecendo. No caso do conflito árabe-israelense, não é diferente. Porém, por mais colorida que a cena seja pintada, o motivo de tudo é um só: território. A terra prometida não tem petróleo, mas tem fronteiras com os principais países do Oriente Médio, controla a circulação de água potável do Rio Jordão e de portos marítimos do Mediterrâneo.

Perguntas a Nelson

10 de maio de 2008 Críticas

Cuidado com o cão, da Cia de Teatro Íntimo, é o terceiro dos quatro espetáculos encenados pela companhia desde a sua formação. Estreado em 2007, o espetáculo foi imediatamente precedido pelo esquete Pouco não é amor, apresentado no festival Mercadão Cultural no segundo semestre de 2006. Ainda que este último não conste no folheto com a listagem dos espetáculos da companhia, minha expectativa e minha recepção para Cuidado com o cão foram absolutamente determinadas pela apresentação do esquete, especialmente pois o tamanho reduzido de seu formato suscitava o desejo por uma continuidade, que, de certa forma, pude observar no espetáculo que acaba de cumprir temporada no espaço da Cia dos Atores.

Formas inscritas

10 de maio de 2008 Críticas
Atores: Leonado Medeiros e Arieta Correa. Foto: Carol Sachs.

A peça de câmara da Sutil Companhia de Teatro inicia a sua relação com o espectador, através do título, com a palavra “não”. Não sobre o amor. Algum “não” se dá também quando o trabalho é apresentado como peça de câmara. Se esta é a primeira peça de câmara do grupo, os artistas envolvidos no trabalho estão, de certa forma, dizendo um pouco de não para um jeito de fazer teatro que eles já conhecem e que já sabem fazer. Se este novo trabalho demanda outro formato, dizer “não” para os procedimentos familiares é dizer “sim” a esta demanda. Dizer “não” pode ser o começo de algo, não um fim. O “não” do título também carrega um “sim” implícito, um “sim” inevitável. O espetáculo fala sobre o amor, mas não simplesmente sobre o amor: fala sobre formas de expressão e sobre falar (ou não) sobre o amor.

Imagem e discurso

15 de abril de 2008 Críticas
Gabriela Carneiro da Cunha. Foto: Divulgação.

O espetáculo Todo o tempo do mundo, realizado pelo Studio Stanislavski, instala a cena e a platéia dentro do palco do Teatro Maria Clara Machado, formando um outro espaço circular. A cenografia de José Dias intervém efetivamente no ambiente, criando um novo lugar. O espaço de atuação se descola da arquitetura daquele teatro. No centro, um tablado redondo que gira sobre o seu próprio eixo é o suporte para a linha diretriz da trama: o tempo em que um homem ficou preso, os sonhos que teve, sua relação com estes sonhos e a conclusão que se pode tirar desta história. Em torno do pequeno círculo/cela, outro se forma pela disposição intercalada de cadeiras para o público e espaços para as cenas. A divisão entre estes espaços é feita por um véu escuro e pela iluminação. As cenas que acontecem nestes espaços, que às vezes se assemelham a pequenos nichos, apresentam os sonhos do homem que está deitado em seu catre – percebemos esta relação logo de início pois as cenas no círculo exterior só acontecem enquanto o personagem que está no centro dorme.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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