Críticas

Dobradinha

4 de fevereiro de 2018 Críticas

 

Foto: Bidi Bujnowsky.
Foto: Bidi Bujnowsky.

Ricardo Kosovski entra em cena vestido num paletó largo demais. E descalço. Depois de algum tempo em silêncio, com seu corpo tomado por pequenos movimentos físicos que remetem a certos espasmos involuntários do corpo, provavelmente causados por um grande desconforto, começa a falar:

“Puxo um fio. E depois outro. E mais outro. Desenrolo e chego no ponto onde quase acaba. É o que parece: vai acabar. – A – CA – BA . Você não pode falar. Os fios estão vivos e embolados dentro da sua barriga. Quanto mais eu puxo, sinto que também são meus. Estão embolados na minha barriga também. Eu sei que dói. Está doendo em você também? Você não responde. Você não consegue falar. Quem acredita nisso que estou falando chama esses fios de história. Mas agora esses fios são as suas tripas. E as minhas também. Eu estou falando de tripas. Tripas de todos aqueles que chegaram até essa fronteira, onde tudo acaba. Eu posso falar por você. É o que faço agora.”

Moscou é aqui

26 de janeiro de 2018 Críticas
Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação.

Quando estava a caminho do Glauce Rocha, sem saber do que se tratava, contei a um amigo que eu estava indo ver uma peça provavelmente inspirada em Tchekhov, na Irina de As três irmãs. No ônibus, enquanto olhava sem ver a paisagem passando em velocidade de filme mudo – revi ontem O garoto, do Chaplin, e meu filho perguntou por que tudo parecia mais rápido do que na “vida real” – comecei a imaginar uma peça que aproximaria a frustração da caçula de As três irmãs, por não conseguir recuperar o paraíso perdido, e a situação de tantas mulheres que ficaram pelo caminho porque não tinham condições materiais mínimas para realizar os seus desejos, ou, nas palavras de Virginia Woolf, porque não tinham “um teto todo seu” – como tantos artistas na nossa cidade neo-evangélica.

Liberdade pela metade

19 de janeiro de 2018 Críticas
Foto: Ricardo Brajterman.
Foto: Ricardo Brajterman.

A ideia de entrar no teatro para ver uma releitura de Shakespeare, ainda mais com este belo título, O animal que ronda, me deixa sempre numa expectativa prazerosa. Não só porque as releituras dos clássicos são mais raras do que eu gostaria na cena teatral carioca, mas sobretudo porque, ao ver uma nova interpretação de uma obra canônica, duas vertentes muitas vezes antitéticas do meu trabalho, a de crítico teatral e a de professor de filosofia, encontram uma síntese que faz com que eu me sinta menos partido. Afinal, como professor universitário, eu sou fundamentalmente um leitor de releituras de obras clássicas. Nesse sentido, independentemente da minha vontade consciente, me sentei na arquibancada do Espaço Municipal Sergio Porto com duas perguntas (ou exigências) na cabeça.

Alla Prima, o corpo agora

23 de outubro de 2017 Críticas
Alla Prima. Foto: Divulgação.
Alla Prima. Foto: Divulgação.

Alla Prima é uma expressão italiana que poderia ser traduzida como “à primeira”, ou “de primeira”. É utilizada para designar uma técnica ou estilo de pintura na qual a tinta é aplicada diretamente na base escolhida, sem estudos nem preparação, e o resultado final é atingido após uma única aplicação, sem retoques do artista. Praticada a partir do século XVII, originalmente com tinta a óleo, a pintura é realizada e terminada enquanto a tinta ainda está fresca.

Com outro público

18 de agosto de 2017 Críticas
Paulo Tiefenthaler. Foto: Maurício Martins.
Paulo Tiefenthaler. Foto: Maurício Martins.

Em cartaz no Teatro Poeira, a peça Fome, o musical – Do broto ao bacon everybody rocks é das melhores coisas em cartaz no Rio de Janeiro. Faço essa observação com assumido cinismo, afinal, não vi nem metade do que está em cartaz na cidade e no momento em que escrevo esse texto estou há mais de 10 dias fora do país. Mas o caso é que o espetáculo de Paulo Tiefenthaler é fora de série, no sentido literal da expressão. Ele não se encaixa em nenhuma categoria prévia e só isso já vale a ida ao teatro.

Newsletter

Edições Anteriores

Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

Edições Anteriores