Foto: Bidi Bujnowsky.
Foto: Bidi Bujnowsky.

Ricardo Kosovski entra em cena vestido num paletó largo demais. E descalço. Depois de algum tempo em silêncio, com seu corpo tomado por pequenos movimentos físicos que remetem a certos espasmos involuntários do corpo, provavelmente causados por um grande desconforto, começa a falar:

“Puxo um fio. E depois outro. E mais outro. Desenrolo e chego no ponto onde quase acaba. É o que parece: vai acabar. – A – CA – BA . Você não pode falar. Os fios estão vivos e embolados dentro da sua barriga. Quanto mais eu puxo, sinto que também são meus. Estão embolados na minha barriga também. Eu sei que dói. Está doendo em você também? Você não responde. Você não consegue falar. Quem acredita nisso que estou falando chama esses fios de história. Mas agora esses fios são as suas tripas. E as minhas também. Eu estou falando de tripas. Tripas de todos aqueles que chegaram até essa fronteira, onde tudo acaba. Eu posso falar por você. É o que faço agora.”