Autor Daniele Avila Small
A dúvida é razoável
12 pessoas com raiva é o título da peça de teatro dirigida por Juracy de Oliveira para fazer apresentações pelo Zoom neste primeiro semestre de 2020. No elenco, estão Ênio Cavalcante, Gabrielly Arcas, Gilson de Barros, Giovanna Araújo, José Henrique Ligabue, Leandro Vieira, Mariana Queiroz, Maurício Lima, Múcia Teixeira, Nely Coelho, Ralph Duccini e Tatiana Henrique. O texto é uma adaptação de Juracy do texto escrito pelo estado-unidense Reginald Rose nos anos 1950. O filme 12 Angry Men é um clássico de 1957 protagonizado por Henry Fonda, e que depois ganhou um remake em 1992. Há poucos anos o grupo TAPA realizou uma adaptação para o teatro, com a tradução 12 homens e uma sentença, a mesma usada para lançar ambos os filmes no Brasil, que carrega a infeliz escolha de suprimir a raiva do título.
O fantasma do teatro
Durante as primeiras semanas de isolamento social devido à pandemia da COVID-19, alguns artistas e grupos de teatro começaram a divulgar links para os registros em vídeo dos seus espetáculos. Canais de grupos e sites de streaming abriram seus acervos. Alguns registros históricos, que já estavam online antes, começaram a aparecer nas redes sociais. Foi neste contexto que assisti a uma gravação de Hamlet, encenação de Elizabeth LeCompte, do The Wooster Group, de Nova York, que neste texto tomo como paradigma para pensar sobre registros de espetáculos de teatro em vídeo no momento em que estamos vivendo. O registro foi feito em 2013, no Festival de Edimburgo, por Zbigniew Bzymek e Juliet Lashinsky-Revene. A cada semana, o grupo disponibiliza uma peça no seu site. Depois de Hamlet, já assisti a Face Up!, a partir de As três irmãs, e Rumstick Road, um incrível trabalho de reconstituição de uma peça autobiográfica de Spalding Gray de 1977. O grupo sabe o valor do seus arquivos e eventualmente oferece projeções do seu repertório em vídeo na sua sede e outros lugares. Também tive oportunidade de ver alguns espetáculos pelo International Online Theatre Festival, embora os horários dos espetáculos sejam péssimos para quem mora em um fuso horário muito diferente do que é tomado como padrão.
Sobre narrativas e martelos
Festa de inauguração, espetáculo do Teatro do Concreto, foi apresentado no CET no dia 1º de setembro de 2019, ainda na primeira metade do 34º Festivale, que em poucos dias já colocou em cena uma grande diversidade de linguagens, apontando noções diversas de teatro para diferentes públicos.
O grupo de Brasília apresenta uma série de provocações que convidam os espectadores e espectadoras a pensar sobre as construções narrativas que formam nossas visões de mundo. O principal aspecto desse processo abordado pelo grupo é a dinâmica de construção e desconstrução que constitui as grandes narrativas. O foco crítico da dramaturgia está, a meu ver, nas construções da coisa pública (a história, a cultura, a arte, os costumes) nas materialidades dos espaços públicos (os museus, os monumentos, as cidades), em contraste com os pequenos gestos dos indivíduos – e as dimensões possíveis da repercussão desses gestos.
A loucura como projeto em Hysteria
Quase 20 anos depois da sua estreia, Hysteria, do Grupo XIX de Teatro, de São Paulo, se apresentou pela primeira vez em São José dos Campos no último dia do 34º Festivale, em setembro de 2019. O espetáculo foi realizado em um galpão abandonado nas imediações da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, cuja arquitetura serviu como o próprio cenário da peça.
Cinco mulheres estão na Sala de Asseios de um hospício feminino do século XIX – uma espécie de cárcere. Quatro delas estão internadas e sob os “cuidados” da quinta personagem, uma enfermeira com ares de governanta que recebe o público feminino com certa agressividade. As narrativas que cada personagem traz foram inspiradas em registros históricos pesquisados pelo grupo. Suas falas trazem citações de documentos e de obras literárias, mas a dramaturgia também conta com a interação com as espectadoras no momento presente.
The fundamental profanation
Portuguese version: http://www.questaodecritica.com.br/2019/11/stabat-mater/
Stabat Mater is the most recent work by Brazilian actress, playwright, and director Janaina Leite, in which she carries on a process that intertwines theatrical language and self-investigation. In March 2019, she shared her creative process of Stabat Mater at the 6th MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, and a few months later, the show premiered at CCSP – Centro Cultural São Paulo. Janaina Leite’s text had been selected as one of the finalists of an open call for playwrights, promoted by this venue the year before. I only had the chance to watch the play a few months later, when it was presented at Teatro de Contêiner, a significant venue in São Paulo.