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Sonoridades beckettianas
Rubens Rusche é diretor teatral paulistano. Estreou na direção com Katastrophé (1986), composto pelas peças curtas Eu Não, Comédia, Cadeira de Balanço e Catástrofe, montagem emblemática de Samuel Beckett no Brasil. Encenou vários textos do dramaturgo irlandês, em diversas montagens nos últimos 26 anos, entre elas Fim de Jogo (1996), pela qual foi premiado com o APCA 1996 (Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte), Crepúsculo (2006), outra compilação de textos curtos, sendo seu mais recente trabalho Oh, os belos dias, que estreou na capital paulista em 2013 e onde também fará temporada em abril de 2014. Dirigiu peças de outros autores e concepções próprias, no entanto, destacam-se as montagens do teatro beckettiano no Brasil.
Lugar-memória, corpo-solidão
Entrar no teatro Poeirinha e mais uma vez ser recebida por um espaço modificado, por outra concepção cênica, que provoca aquela sensação rápida de lugar desconhecido, e que em poucos segundos a memória se organiza e reconhece. O Poeirinha (assim como as salas ditas alternativas) coloca o artista em contato com um espaço totalmente amorfo, e por isso, está sempre apresentando ao público um “lugar” novo. As criações que se apresentam neste espaço parecem surgir, ou se aventurar, por um lugar não definido, não caraterístico e sem similitude com outros espaços de representação. Escrito isto, penso que o espetáculo Primeiro amor, de Samuel Beckett, dirigido por Antonio Guedes, assim como o espaço cênico, nos coloca estes dois pontos para a percepção: o esforço da memória para se lembrar dos fatos vividos e a narrativa construída sobre o chão de um lugar qualquer.
Sob o império do controle
A decisão de Bob Wilson de encenar – e trabalhar como ator – A Última Gravação de Krapp, uma das principais atrações da última edição do festival Porto Alegre em Cena, é bastante compreensível. Em primeiro lugar, Wilson está completando 70 anos, a mesma idade do personagem de Samuel Beckett, o que confere a este trabalho um caráter, em alguma medida, revisionista ou memorialista.
O tempo em gradações sutis
Bob Wilson se apropria de Dias Felizes, de Samuel Beckett, em espetáculo cujo controle sobressai, em especial, por meio do acabamento formal. A terra que suga Winnie surge simbolizada pelo que parecem ser grandes pedras de carvão. Ao longo de boa parte do primeiro ato imperam as tonalidades esmaecidas: atrás de Winnie um sol esbranquiçado e um céu azul claro. O dourado do cabelo da atriz Adriana Asti e as discretas inserções de tonalidades fortes saltam aos olhos num quadro de atraente quase neutralidade.
Beckett sem rótulos
Indubitavelmente, Peter Brook é um dos maiores encenadores do teatro contemporâneo. O artista inglês que, atualmente, dirige o Centro Internacional de Criação Teatral no Théâtre dês Bouffes du Nord, em Paris, trouxe a Portugal, no Centro Cultural Vila Flor, na cidade de Guimarães, uma hora de trem (comboio) da cidade do Porto, o espetáculo Fragments, em um imponente teatro com capacidade para 800 lugares, sendo que apenas um pouco menos da metade da platéia estava preenchida. Foram apenas duas exibições sem as “clássicas” disputas por um ingresso, quando se trata de um artista mundialmente reconhecido com um número restrito de apresentações. Em Portugal, não houve tumulto, aliás, nem empolgação generalizada. Garanti meu lugar na terceira fila, no centro do teatro, sem a menor dificuldade e confesso que, apesar de vibrar pela conquista, lamentei pela falta de interesse dos portugueses num evento nada corriqueiro, tendo em vista que, logo após o espetáculo, haveria uma conversa com a equipe.