Autor Tales Frey
A estratégia final de Abramović ou a imortalidade da arte
Oriundos das próprias vidas dos artistas, sentimentos e reflexões são materiais colhidos e transpostos para uma linguagem universal. Por este motivo Marina Abramović decidiu fazer uma biografia sobre a sua própria vida e, embora tenha optado por usar a sua figura como um material-conteúdo para a elaboração de uma obra, não permitiu que erroneamente trilhasse uma extrema manifestação do seu ego artístico; transcendeu o exclusivismo quando compartilhou conosco a sua consciência e aceitação da morte de uma forma serena em The Life and Death of Marina Abramović, cuja criação é coletiva: de autoria do músico Antony, do encenador Robert Wilson e da própria performer Marina Abramović.
De certa forma, esta é mais uma performance da artista, em que sua imagem funciona como campo simbólico da sua obra de arte, em que se expõe sem estar por detrás de uma personagem. Esta é uma performance mais híbrida, que acopla agora os tradicionais elementos teatrais, embora, sob a encenação de Bob Wilson, nada seja exatamente convencional, inclusive, sua encenação é caracterizada pela ruptura com os moldes cênicos mais clássicos, abrangendo a performance fringe ou o chamado teatro pós-dramático, sendo assim, é uma nova performance, conforme nomeia a teórica deste assunto Roselee Goldberg.
Lap Dance: processo artístico por meio de aforismos sobre a provocação
Sobre o espaço convencional da expressão teatral, o palco, a atriz portuguesa Tânia Dinis busca a arte da performance como meio de expressão para as suas ideias. A tríade básica da expressão cênica está ali – atuante, texto e público –, mas o elemento de “organização pelo self”(1), exibindo o ego pessoal da artista, assim como o acaso, presente principalmente na manifestação da performance, atribui o diferencial desta ação, a qual reforça o quanto a performance se encontra mais próxima do teatro do que das artes plásticas.
Interseções entre teatro e cinema através da Internet
O modelo de sociedade, segundo Foucault, de uma “sociedade disciplinar” – a qual se caracteriza por uma forma de encarceramento completo do indivíduo num ambiente arquitetural – vem se transformando naquilo que Gilles Deleuze identifica por “sociedade de controle”, sendo um controle aberto e contínuo, anti-arquitetura, onde os dispositivos disciplinares tornaram-se menos limitados; as instituições sociais modernas geram indivíduos sociais muito mais flexíveis. Essa passagem para a “sociedade de controle” abarca uma subjetividade que não está atida à individualidade. O indivíduo não pertence a nenhuma identidade ao mesmo tempo que pertence a todas pois, mesmo no exterior das instituições sociais, continua a ser veementemente comandado pela lógica disciplinar.
Beckett sem rótulos
Indubitavelmente, Peter Brook é um dos maiores encenadores do teatro contemporâneo. O artista inglês que, atualmente, dirige o Centro Internacional de Criação Teatral no Théâtre dês Bouffes du Nord, em Paris, trouxe a Portugal, no Centro Cultural Vila Flor, na cidade de Guimarães, uma hora de trem (comboio) da cidade do Porto, o espetáculo Fragments, em um imponente teatro com capacidade para 800 lugares, sendo que apenas um pouco menos da metade da platéia estava preenchida. Foram apenas duas exibições sem as “clássicas” disputas por um ingresso, quando se trata de um artista mundialmente reconhecido com um número restrito de apresentações. Em Portugal, não houve tumulto, aliás, nem empolgação generalizada. Garanti meu lugar na terceira fila, no centro do teatro, sem a menor dificuldade e confesso que, apesar de vibrar pela conquista, lamentei pela falta de interesse dos portugueses num evento nada corriqueiro, tendo em vista que, logo após o espetáculo, haveria uma conversa com a equipe.