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Rasuras sobre o conceito de figura em Samuel Beckett

10 de março de 2009 Estudos

Figura segundo Auerbach

Podemos dizer que Auerbach e Beckett foram contemporâneos, tendo Auerbach nascido em 1892. A diferença de idade entre os dois era de quatorze anos, sendo Beckett de 1906. Para nós, o estabelecimento de uma aproximação com um dos mais importantes críticos e historiadores da literatura europeia da primeira metade do século XX visa iluminar ou encaminhar um argumento de análise do processo de figuração na obra de Beckett, tendo como ponto de referência inicial, ou como ponto de partida, o conceito de figura de Auerbach. Ler Beckett com a chave de Auerbach em nada me parece apropriado, mas este talvez seja o método adequado quando não se crê em leituras definitivas: ler ou tentar abrir portas com chaves trocadas. Fazer aproximações, traçar paralelismos, explorar de coincidências e dar forma a reflexões vagas. Tentar moldar fechaduras por chaves, e chaves por fechaduras, de antemão tendo consciência da impossível tarefa, mas garantido o jogo. Assim, Auerbach e Beckett, para além dos quatorze anos que separam as vidas e as obras de um crítico judeu alemão e de um escritor protestante irlandês: nos empenharemos em sobrepô-los forçosamente, garantindo um jogo ganhar e/ou perder no nosso processo de análise crítica e compreensão histórica.

O registro de um Krapp

15 de outubro de 2008 Críticas
Ator: Sérgio Brito. Foto: divulgação.

A dramaturgia da peça A última gravação, de Samuel Beckett, nos apresenta um velho homem numa relação com seu gravador, através do qual se escuta os seus depoimentos registrados em diversas fases da sua vida. A cada ano o personagem Krapp escuta alguns destes depoimentos, nos quais ele não se reconhece mais. À medida que ele escuta as suas gravações, e percebe que já não possuem mais a mesma importância, vão sendo desdobradas várias vozes díspares dentro de uma estrutura monológica.

Crítica do espetáculo Fragments

15 de julho de 2008 Traduções

Este artigo foi publicado originalmente em inglês, na revista eletrônica The British Theatre Guide

O Théâtre des Bouffes du Nord de Peter Brook está localizado numa vizinhança parisiense geralmente chamada de ‘o gueto’ ou ‘local para não-ir’. Os trens do metrô chocalham ao longo dos trilhos suspensos, passando acima de clamorosos engarrafamentos e ruas transbordando de aglomerações multiculturais. Os gentis aromas dos restaurantes indianos e das mercearias africanas podem ser sentidos na brisa. Dentro do edifício, o auditório não-reformado da companhia, com paredes marcadas e uma cúpula esplêndida e despida de ornamentos, se parece mais com uma catedral devastada pela guerra do que com o teatro burguês coberto de ouro e veludo que foi no século XIX. Há algo de majestoso nos restos desfarelados do procênio feito de pedra e nas paredes descobertas. O espaço tem o ar de uma Hécuba envelhecida após o saqueio de Tróia, a cabeça ainda erguida, e o que se perdeu em ouro e veludo foi ganho em calma, em dignidade sem adornos.

Fragments no Bouffes du Nord: um Beckett longe dos clichês

15 de julho de 2008 Traduções

A crítica de Jean-Pierre Thibaudat foi publicada originalmente no blog Balagan, no site Rue 89, em março de 2008.

Brook monta quatro pequenos sopros de Beckett e faz uma boa ação para a humanidade. Eles estão lá como dois amigos que se reencontram, bebendo alguma coisa, falando de tudo e de nada, da vida que passa, rindo de tudo e de nada e, em primeiro lugar, da condição humana. Oferecendo aos espectadores a passagem de um pouco de alegria por seus caminhos durante uma hora.  É também simples, é também belo, porque é o reencontro do velho Peter e do velho Sam, dois moleques que constroem sua cabaninha, que se divertem e cochicham um segredo.

Simplicidade em tempos de Broadway

15 de julho de 2008 Críticas
Ator: Marcelo Magni. Foto: divulgação.

Por uma série de motivos, a passagem de Fragments pode ter uma boa repercussão no teatro carioca. Esses motivos, para mim, dizem respeito principalmente aos questionamentos que a presença dessa peça pode trazer para o teatro que se faz neste momento no Rio de Janeiro. Penso que é importante pensar como nos relacionamos com os espetáculos que passam por aqui, verificar como eles movimentam nossa visão e nossa prática de teatro.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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