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A árvore metálica do vale de cada pessoa
Um vale é uma área de depressão territorial alongada, de baixa altitude, cercada por montanhas ou colinas. Sua formação se dá normalmente devido à atividade fluvial: a correnteza das águas provoca uma erosão e um vale é formado, em processo lento e contínuo de deslocamento de materiais de um lugar para outro. É lá no fundo desse vale em que acontece Vale da Estranheza – espetáculo do grupo alemão Rimini Protokoll – apresentado na 8ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, com direção de Stefan Kaegi. Nesse terreno movediço, a peça faz girar e profanar elementos muitas vezes lidos como separados, mas que só existem na relação com o que aparenta ser seu oposto: robô e gente, vida e morte, pele e silício, saúde e doença, mania e depressão, acerto e erro, estabilidade e instabilidade, corpo e engrenagem.
Arquivo inventado e a cena como máquina do tempo em Cancioneiro Terminal
Olhando agora essas imagens pensamos que elas, assim como as legendas,
serão sempre insuficientes. Esse é o filme que conseguimos fazer.
(créditos de abertura da performance-filme Cancioneiro Terminal)
Praça da República, São Paulo. Sexta-feira, 13 de março de 2020. Caminhava sozinho em direção à Biblioteca Mário de Andrade, para assistir à apresentação de Cancioneiro Terminal, quando as mensagens de fechamento dos equipamentos culturais por motivos de segurança sanitária começaram a chegar pelo telefone. Pairava entre nós certa aflição e desconfiança diante dos noticiários que ao longo de todo o verão atualizavam a elevada taxa de mortalidade na Europa. Àquela altura ainda não havia sido notificada nenhuma morte por COVID-19 no Brasil e constavam apenas 107 casos confirmados de infecção pela doença. Esse percurso a pé até o teatro estabelecia na vida daquele coletivo artístico e daqueles espectadores (eu incluso), sem que soubessem, o início exato do primeiro confinamento no país e da modulação de diversas práticas de convivência, dentre elas, as artes da cena.
Teatro, ensino e aprendizagem
Artista em foco da edição de 2020 da MITsp, o dramaturgo português Tiago Rodrigues apresentaria dois espetáculos na mostra: By heart (2013) e Sopro (2017). Devido a sanções decorrentes da expansão da COVID-19, apenas o primeiro espetáculo chegou a ser apresentado, não permitindo a visão do trabalho do artista pensada originalmente pela curadoria do festival. No entanto, a estreia de By heart reverberou muitas ideias por entre as diversas instâncias de debate possibilitadas pela MITsp – entrevista pública com o artista, diálogo transversal e prática da crítica –, trazendo à tona elementos latentes na proposta cênica deste espetáculo de 2013. Quando confrontado com noções mais ou menos correntes no público cativo de um festival como a MITsp, By heart foi analisado e questionado à luz do pensamento feminista, negro e decolonial, o que promoveu tensões e choques com a sua dramaturgia.
Por um teatro do dissenso: Laboratório colaborativo com Victoria Perez Royo
“La operación de percibir el mundo no consiste tanto en representarlo, como en construirlo. Esta acción está compuesta de una multitud de procesos complejos: consiste en un conglomerado de interpretaciones de la realidad, construcciones de otras realidades, explicaciones post-hoc, reeva- luaciones y un montón adicional de trucos de magia que el cerebro considera conveniente para optimizar nuestra interacción con el entorno.”
Victoria Pérez Royo
Fui convidada pela Revista Questão de Crítica para compartilhar a experiência que tive com a pesquisadora espanhola Victoria Pérez Royo em seu workshop de três dias dentro das Ações Pedagógicas, oferecido pela MITsp 2018 em São Paulo, com curadoria de Maria Fernanda Vomero. Victoria é pesquisadora de Artes Cênicas e professora na Faculdade de Filosofia da Universidade de Zaragoza na Espanha.
MITsp 2016 – 6 reviews: Joël Pommerat, Dimitris Papaioannou, José Fernando Azevedo, Josse de Pauw e Krzysztof Warlikowski
Vol. IX, nº 67 abril de 2016 :: Download complete edition in PDF
By Daniele Avila Small, Mariana Barcelos and Patrick Pessoa
Translated by Dermeval de Sena Aires Júnior
The following critiques were presented in March 2016 on occasion of the 3rd MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. They were written by Daniele Avila Small, Mariana Barcelos, and Patrick Pessoa, of the Questão de Crítica magazine, who participated of “Prática da Crítica” [“Criticism Practice”]. This activity has been promoted by the festival since its first edition in 2014 and is part of a broad set of formative activities included in the exhibit Olhares Críticos [“Critical looks”].