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Uma reavaliação das posturas individuais
Uma interrogação essencial a atravessar as estruturas da peça Oxigênio, da Companhia Brasileira, é de que modo o ator pode se colocar legitimamente no palco, diante do autor das palavras que profere, do colega com quem contracena e, em última instância, do público.
O texto do dramaturgo russo Ivan Viripaev exige esse autoquestionamento, na medida em que derruba as roupagens com que um ator costuma se travestir ao assumir um papel. Faz com que os personagens catalisadores do espetáculo, um assassino passional e sua musa cúmplice, se esfacelem, sobrevivendo apenas como artifícios para proveito dos narradores. Estes, à sua vez, também se desmantelarão.
Um olhar com pensamento dentro
“E os aparelhos ópticos, meus aparatos? Ponho mais lentes no telescópio, tiro outras; amplio; regulo; aumento, diminuo, o olho enfiado nestes cristais, e trago o mundo mais perto ou o afasto longe do pensamento: escolho recantos, seleciono céus, distribuo olhares, reparto espaços, o Pensamento desmonta a Extensão, – e tudo são aumentos e afastamentos. Um olhar com pensamento dentro.”
Paulo Leminski, Descartes com lentes
A apresentação de Descartes com lentes realizada no ACTO2, encontro de teatro do Espanca! com o Grupo XIX e a Companhia Brasileira, que aconteceu em Belo Horizonte em outubro deste ano, se deu num contexto singular: a inauguração da sede do Espanca!, ainda em processo de reformas, mas já em plena atividade. Depois da apresentação, artistas e espectadores conversaram, trocando impressões sobre o trabalho e sobre a experiência da criação, o que aconteceu como consequência natural daquele encontro, provavelmente pelo viés filosófico do próprio texto, que convida à conversa.
Nome, dança, espaço, alteridade, autoria
Procuro aqui puxar e ligar alguns fios. Dois espetáculos fizeram curtas temporadas no Rio de Janeiro nesse mês de maio: Otro or weknowitsallornothing, do Coletivo Improviso, do Rio, e Vida, da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba. Otro estreou aqui com jeito de pré-estreia, fez três semanas na programação do Projeto Entre, no Espaço Cultural Sérgio Porto e segue para outros países. Vida, depois de estrear no Festival de Curitiba e cumprir temporada por lá, fez seis apresentações no Espaço Tom Jobim.
Uma tentativa de diálogo
A Companhia Brasileira de Teatro saiu do processo de dois anos dedicados à literatura de Paulo Leminski tendo gestado uma obra autônoma: Vida. Os temas do poeta paranaense sobrevivem no espetáculo que estreou no Festival de Curitiba na medida em que vão diretamente de encontro aos interesses do grupo, muito identificado à dramaturgia francesa de um teatro em que a palavra germina em contextos frágeis de conversação.
Convivência
Na arena do Espaço SESC, a peça O que eu gostaria de dizer, dirigida por Marcio Abreu, apresenta três unidades de espaço, delineadas por esculturas cenográficas de Cláudio Alvarez. Cada um desses espaços é ocupado por um dos atores. A partir desses pequenos universos, três personagens se expressam e, direta ou indiretamente, se relacionam. Dos três espaços, um fica mais afastado: é a sala do personagem de Luis Melo, com poltrona, almofada, mesa de cabeceira, rádio, apoio para os pés. Os outros dois estão mais próximos entre si, embora separados: formam a casa de um casal em vias de separação. O espaço de Bianca Ramoneda é ocupado por uma cadeira, duas malas e um abajur, enquanto o de Márcio Vito contém apenas uma miniatura de veleiro, um banquinho, uma lata de lixo e uma lâmpada. As esculturas são formadas apenas pelo que seria a ossatura de um espaço fechado – os contornos estão traçados, mas não há paredes. Assim, o cenário cria certo isolamento para cada personagem, mas os mantém dentro do mesmo campo visual.