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Ato de variação
Na tentativa de repensar o indivíduo e a sua relação com o mundo, a Companhia Brasileira de Teatro montou a peça Oxigênio, que está em cartaz no espaço SESC até o dia 29 de maio. Numa melhor definição, poderíamos dizer que há na peça uma preocupação com o essencial e o institucional. Ao perseguirem o que de fato pode auxiliar o indivíduo na descoberta da sua presença no mundo, há o perigo de se instituir os caminhos e engessá-los sem levar em consideração o particular, o dinâmico. Nessa condição paradoxal, as questões sobre o que determina nosso lugar no mundo são feitas pelo dramaturgo russo Ivan Viripaev. A forma encontrada pelo diretor Marcio Abreu para afastar sua montagem de um teatro de instituições foi mesclar uma série de linguagens: a música, no ritmo marcado e preciso da peça; a moda, no vai e vem dos atores pelo palco-passarela, desfilando suas idéias; o talkshow, com microfone aberto para discussões entre os atores; a ficção, com a história da Sacha e do Sacha; a biografia, através do dialogo franco entre Patrícia Kamis e Rodrigo Bolzan, atores da peça. Com isso, ele consegue devolver o poder de impacto de certas palavras, e consequentemente de certos atos, que foram perdidos devido a um processo de dessensibilização social. Assim, o conflito que é proposto em cena escapa dos conflitos previstos por um sistema institucional e não pode ser controlado por ele. Essa é a inquietação que a peça causa no espectador, a ele é oferecida uma brecha para se repensar.
Uma reavaliação das posturas individuais
Uma interrogação essencial a atravessar as estruturas da peça Oxigênio, da Companhia Brasileira, é de que modo o ator pode se colocar legitimamente no palco, diante do autor das palavras que profere, do colega com quem contracena e, em última instância, do público.
O texto do dramaturgo russo Ivan Viripaev exige esse autoquestionamento, na medida em que derruba as roupagens com que um ator costuma se travestir ao assumir um papel. Faz com que os personagens catalisadores do espetáculo, um assassino passional e sua musa cúmplice, se esfacelem, sobrevivendo apenas como artifícios para proveito dos narradores. Estes, à sua vez, também se desmantelarão.