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A ditadura militar é um passado recente ainda cheio de lacunas que Nem mesmo todo o oceano procura formalizar sob uma perspectiva não muito habitual. O espetáculo da Cia OmondÉ, dirigido por Inez Viana, transpõe para o teatro o livro homônimo do mineiro Alcione Araújo que narra o percurso de ascensão e queda da vida de um jovem do interior do país que segue a carreira de médico no Rio de Janeiro em meio a gestação, apogeu e declínio da ditadura no Brasil.

O tratamento mostrado na encenação por aspectos de teor tipificado das partes do conflito, ou seja, da perspectiva dos militares por um lado, e por outro da articulação estudantil, emprega, na maioria dos casos, uma percepção que tende ao popular ou alegórico se quisermos. Tal percepção, em seu extremo, parece se aproximar da mitificação. Porem, no mito narrado pela Cia OmondÉ o herói é a marca da tragédia do homem contemporâneo deixado à nu sob um céu sem deuses. Conhecemos bem a história de Ulisses na Odisseia de Homero em que, durante seu regresso a Ítaca, sempre que foi necessário, teve o auxílio de Hermes e Atenas. O sentido quase que premente de uma totalidade no mundo grego era consolidado pela intensa relação entre homens e deuses, sem a qual, os primeiros provavelmente não poderiam enfrentar o mundo da realidade objetiva. Na fábula atual o homem está sozinho.