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Perguntas sobre o trágico
Nesta breve análise da montagem da peça Maravilhoso, texto de Diogo Liberano encenado por Inês Viana, que esteve em cartaz no Teatro Gláucio Gill no segundo semestre de 2013, procuro pensar a perspectiva trágica a partir do texto e de algumas escolhas da encenação com o trabalho dos atores.
O projeto de montagem da peça Maravilhoso partiu da ideia do ator Paulo Verlings de unir o Fausto de Goethe com o carnaval carioca. Liberano, convidado a escrever o texto, surpreende com um Fausto improvável: jovem, pobre e desprovido de formação intelectual. Seu protagonista, Henrique, interpretado por Paulo Verlings, não tem pretensões criadoras, é um Fausto sem vida interior. Sua vida material também é escassa. Com essa condição do personagem na trama, a dialética entre interior e exterior que move o Fausto de Goethe para uma vertigem criadora não acontece. A opção é curiosa. Este Fausto aspira a quê? Vende sua alma para quê?
A violência latente de todos nós
A ditadura militar é um passado recente ainda cheio de lacunas que Nem mesmo todo o oceano procura formalizar sob uma perspectiva não muito habitual. O espetáculo da Cia OmondÉ, dirigido por Inez Viana, transpõe para o teatro o livro homônimo do mineiro Alcione Araújo que narra o percurso de ascensão e queda da vida de um jovem do interior do país que segue a carreira de médico no Rio de Janeiro em meio a gestação, apogeu e declínio da ditadura no Brasil.
O tratamento mostrado na encenação por aspectos de teor tipificado das partes do conflito, ou seja, da perspectiva dos militares por um lado, e por outro da articulação estudantil, emprega, na maioria dos casos, uma percepção que tende ao popular ou alegórico se quisermos. Tal percepção, em seu extremo, parece se aproximar da mitificação. Porem, no mito narrado pela Cia OmondÉ o herói é a marca da tragédia do homem contemporâneo deixado à nu sob um céu sem deuses. Conhecemos bem a história de Ulisses na Odisseia de Homero em que, durante seu regresso a Ítaca, sempre que foi necessário, teve o auxílio de Hermes e Atenas. O sentido quase que premente de uma totalidade no mundo grego era consolidado pela intensa relação entre homens e deuses, sem a qual, os primeiros provavelmente não poderiam enfrentar o mundo da realidade objetiva. Na fábula atual o homem está sozinho.