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A sobrevivência do tempo

26 de fevereiro de 2010 Críticas

Atrizes: Rosanne Mulholland e Simone Spoladore. Foto: Hannah Jatobá

Questões formais

Na peça Louise Valentina, o diretor Felipe Vidal usa recursos cinematográficos que sugerem uma percepção diferenciada do espaço cênico. Ele acrescenta uma profundidade de campo ao palco ao projetar quatro sequências de curtas-metragem dirigidos por Marcela Lordy. A profundidade de campo foi uma técnica inovadora de filmagem que surgiu no cinema da década de 40; ela permite que o espectador de cinema veja um só plano que põe em relação o plano de fundo com o primeiro plano, passando por todos os três tipos de plano: geral, médio e close. Este procedimento foi desenvolvido por Orson Welles que, ao por a câmera em um ângulo diagonal preciso, conseguia atravessar todos esses níveis e mantê-los em foco. Foi bem explorado por ele no filme Cidadão Kane para acrescentar diferentes níveis de situação e de tempo em uma única imagem.

Dramaturgia em três tempos

31 de janeiro de 2010 Processos
Atrizes: Rosanne Mulholland e Simone Spoladore. Foto: Hannah Jatobá.

O ponto de partida de Louise Valentina foi a sugestão da Simone Spoladore de trabalhar a partir de Valentina, personagem que o quadrinista Italiano Guido Crepax (1933-2003) começou a desenhar em 1965. Eu sabia que Valentina tinha sido criada a partir da personagem Lulu, interpretada pela atriz americana Louise Brooks no filme A Caixa de Pandora (1928), dirigido pelo alemão G.W. Pabst e que se baseia nas peças de Frank Wedekind (1864-1918), Erdgeist (Espírito da Terra, 1895) e Die Büchse der Pandora (A Caixa de Pandora), 1904. Sugeri então que Louise fosse o outro elemento focalizado no processo. Tendo estas duas figuras femininas da cultura pop do século XX como objetos centrais, iniciamos a construção dramatúrgica do espetáculo.

Uma paisagem que afeta

26 de janeiro de 2010 Críticas
Foto: Tomás Ribas

Um dos maiores desafios da cena contemporânea é o de expressar, por meio da fragmentação que quase a define, uma possibilidade de apreensão para o espectador que revele uma perspectiva na própria duração do tempo do espetáculo. Em termos de artes cênicas isso é importante, pois deixa o espectador em um estado de suspensão, em uma espécie de devir, esperando por traços de identificação daquela sensação primeira. E isto acontece no espetáculo Louise Valentina solo de Simone Spoladore, encenado por Felipe Vidal. A imagem inicial da atriz Simone Spoladore parece condensar a dramaturgia – uma mulher que se deixou asfixiar paulatinamente. A performance da atriz nessa cena, com movimentos lentos e delicados em contraste com sua posição e os elementos da cenografia, nos dá a ideia de que o que nos aflige culturalmente nem sempre é possível de ser nomeado. A referida imagem me remeteu à cena inicial do espetáculo Hey girl do diretor Romeo Castellucci, apresentado no Riocenacontemporânea em outubro de 2007. Esta relação enriquece as duas obras que materializam um certo estado imperceptível de soterramento do feminino. Esta primeira conjugação entre forma e conteúdo acompanha a encenação de Louise Valentina, orienta nossa percepção e, conseqüentemente, a minha análise. 

Ideologias na primeira pessoa

10 de maio de 2009 Críticas
Atores: Thiago Fragoso e Otávio Augusto. Foto: Chico Lima.

O espetáculo Rock’n’roll encena o texto de Tom Stoppard, que abarca de forma lírica, ou seja, por meio de diversas subjetividades, a invasão soviética à Tchecoslováquia , cobrindo um período que vai de 1968 a 1990 desde a Primavera de Praga até Revolução de Veludo. O painel humano da história está tensionado por duas personagens emblemáticas, o jovem idealista Jan e o velho professor marxista Max, que, ao longo da peça, têm suas vidas desconstruídas pela força do contexto social assolado pela batalha travada entre questões da razão e da sensibilidade.

Fragments no Bouffes du Nord: um Beckett longe dos clichês

15 de julho de 2008 Traduções

A crítica de Jean-Pierre Thibaudat foi publicada originalmente no blog Balagan, no site Rue 89, em março de 2008.

Brook monta quatro pequenos sopros de Beckett e faz uma boa ação para a humanidade. Eles estão lá como dois amigos que se reencontram, bebendo alguma coisa, falando de tudo e de nada, da vida que passa, rindo de tudo e de nada e, em primeiro lugar, da condição humana. Oferecendo aos espectadores a passagem de um pouco de alegria por seus caminhos durante uma hora.  É também simples, é também belo, porque é o reencontro do velho Peter e do velho Sam, dois moleques que constroem sua cabaninha, que se divertem e cochicham um segredo.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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