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Dramaturgia em três tempos
O ponto de partida de Louise Valentina foi a sugestão da Simone Spoladore de trabalhar a partir de Valentina, personagem que o quadrinista Italiano Guido Crepax (1933-2003) começou a desenhar em 1965. Eu sabia que Valentina tinha sido criada a partir da personagem Lulu, interpretada pela atriz americana Louise Brooks no filme A Caixa de Pandora (1928), dirigido pelo alemão G.W. Pabst e que se baseia nas peças de Frank Wedekind (1864-1918), Erdgeist (Espírito da Terra, 1895) e Die Büchse der Pandora (A Caixa de Pandora), 1904. Sugeri então que Louise fosse o outro elemento focalizado no processo. Tendo estas duas figuras femininas da cultura pop do século XX como objetos centrais, iniciamos a construção dramatúrgica do espetáculo.
Uma paisagem que afeta
Um dos maiores desafios da cena contemporânea é o de expressar, por meio da fragmentação que quase a define, uma possibilidade de apreensão para o espectador que revele uma perspectiva na própria duração do tempo do espetáculo. Em termos de artes cênicas isso é importante, pois deixa o espectador em um estado de suspensão, em uma espécie de devir, esperando por traços de identificação daquela sensação primeira. E isto acontece no espetáculo Louise Valentina solo de Simone Spoladore, encenado por Felipe Vidal. A imagem inicial da atriz Simone Spoladore parece condensar a dramaturgia – uma mulher que se deixou asfixiar paulatinamente. A performance da atriz nessa cena, com movimentos lentos e delicados em contraste com sua posição e os elementos da cenografia, nos dá a ideia de que o que nos aflige culturalmente nem sempre é possível de ser nomeado. A referida imagem me remeteu à cena inicial do espetáculo Hey girl do diretor Romeo Castellucci, apresentado no Riocenacontemporânea em outubro de 2007. Esta relação enriquece as duas obras que materializam um certo estado imperceptível de soterramento do feminino. Esta primeira conjugação entre forma e conteúdo acompanha a encenação de Louise Valentina, orienta nossa percepção e, conseqüentemente, a minha análise.