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Entre dramaturgias, atuações e escolhas

No segundo semestre de 2012, estreou no Rio de Janeiro, na Casa de Cultura Laura Alvim, a montagem de O homem travesseiro de Martin McDonagh dirigida por Bruce Gomlevsky com a sua Companhia Teatro Esplendor. A peça fez ainda uma segunda temporada no Teatro do Leblon no final do ano. O empreendimento do diretor, que também protagoniza o espetáculo, segue uma linha de dramaturgia interessante para o seu grupo. As montagens anteriores, Festa de família de David Eldridge e A volta ao lar de Harold Pinter, apresentavam textos excelentes, ambos sem apelo fácil, encenados com simplicidade: proposta que parece priorizar uma determinada tentativa de relação com o público, uma relação que é, por assim dizer, mais intelectual, no melhor sentido do termo. O diretor não investe muito na visualidade do espetáculo e não prioriza atuações de destaque óbvio. Parece que há uma valorização das ideias que estão em jogo no texto, e acima de tudo, das relações complexas entre os personagens – o que se torna visível, principalmente, em atuações mais discretas e sofisticadas. O foco está na ação, no jogo, e aí o espectador está imerso.
As palavras de Pinter

Em cartaz no teatro do Centro Cultural dos Correios, A volta ao lar, sob direção de Bruce Gomlevsky, traz ao circuito teatral carioca mais um texto de Harold Pinter. Em 2008 foi encenada Traição, com direção de Ary Coslov, que está novamente em temporada no mesmo Teatro Solar de Botafogo. Em 2011, foi a vez de Outros tempos, dirigida por Pedro Freire.
A dramaturgia de Pinter sugere um mundo nebuloso e ao mesmo tempo mostra uma objetividade por meio das palavras diretas e vorazes que seus personagens carregam. Os diálogos são entrecortados por silêncios e pausas que ditam o ritmo da cena; as ações dramáticas parecem estagnadas, mas vêem carregadas de falas que iludem o entendimento do espectador (o não dito é mais presente diante do que se diz). O universo do autor no qual as falas escondem o enigma do “não dito”, personagens com subjetividades destituídas de afeto aparente, que se dão como seres ambíguos e vagos e a crueza com que as palavras violam o espaço – geralmente espaços fechados, sombrios, desgastados, como no caso de A volta ao lar – é um campo vasto, principalmente para a atuação.
Formas inscritas

A peça de câmara da Sutil Companhia de Teatro inicia a sua relação com o espectador, através do título, com a palavra “não”. Não sobre o amor. Algum “não” se dá também quando o trabalho é apresentado como peça de câmara. Se esta é a primeira peça de câmara do grupo, os artistas envolvidos no trabalho estão, de certa forma, dizendo um pouco de não para um jeito de fazer teatro que eles já conhecem e que já sabem fazer. Se este novo trabalho demanda outro formato, dizer “não” para os procedimentos familiares é dizer “sim” a esta demanda. Dizer “não” pode ser o começo de algo, não um fim. O “não” do título também carrega um “sim” implícito, um “sim” inevitável. O espetáculo fala sobre o amor, mas não simplesmente sobre o amor: fala sobre formas de expressão e sobre falar (ou não) sobre o amor.
Flashes de um exílio subjetivo

Logo no início de Não sobre o Amor, Victor Shklovsky é atravessado, enquanto dorme, pela imagem de Elsa Triolet (rebatizada, em cena, de Alya), projetada ao fundo do palco. A passagem diz bastante sobre esta nova montagem de Felipe Hirsch, em especial no que se refere à importância do tempo em seu teatro.