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As palavras de Pinter

20 de maio de 2012 Críticas
Foto: Divulgação.

Em cartaz no teatro do Centro Cultural dos Correios, A volta ao lar, sob direção de Bruce Gomlevsky, traz ao circuito teatral carioca mais um texto de Harold Pinter. Em 2008 foi encenada Traição, com direção de Ary Coslov, que está novamente em temporada no mesmo Teatro Solar de Botafogo. Em 2011, foi a vez de Outros tempos, dirigida por Pedro Freire.

A dramaturgia de Pinter sugere um mundo nebuloso e ao mesmo tempo mostra uma objetividade por meio das palavras diretas e vorazes que seus personagens carregam. Os diálogos são entrecortados por silêncios e pausas que ditam o ritmo da cena; as ações dramáticas parecem estagnadas, mas vêem carregadas de falas que iludem o entendimento do espectador (o não dito é mais presente diante do que se diz). O universo do autor no qual as falas escondem o enigma do “não dito”, personagens com subjetividades destituídas de afeto aparente, que se dão como seres ambíguos e vagos e a crueza com que as palavras violam o espaço – geralmente espaços fechados, sombrios, desgastados, como no caso de A volta ao lar – é um campo vasto, principalmente para a atuação.

No silêncio, a voz muda

29 de julho de 2011 Críticas
Otto Jr e Cristina Flores. Foto: Dalton Valério.

O que o diretor Pedro Freire construiu em sua montagem da peça Outros tempos de Harold Pinter foi uma maneira de dar visibilidade às forças que, embora naturais do caráter humano, aparecem veladas por serem demasiado intrínsecas. Outros tempos, que esteve em cartaz no mês de julho no teatro SESC Copacabana, é uma peça que, sem recorrer a flashbacks, amarra as linhas do tempo num instante presente. A medida que os nós vão sendo atados, mais perceptível a cadeia de relações vai se tornando, porém nunca sendo completamente explanada. O projeto que possibilita a visibilidade dessas forças depende da edificação de três níveis de relação. A tarefa do diretor de equacionar um provável contato entre esses níveis é determinante para a definição dos eixos em torno dos quais a peça gira.

Atuação e espaços fechados

15 de novembro de 2008 Críticas

Prorrogada até dia 7 de dezembro no teatro Solar de Botafogo, a temporada da peça Traição com direção de Ary Coslov, nos possibilita a chance de ver encenado um texto de Harold Pinter, dramaturgo inglês dos mais importantes da segunda metade do século XX. Com uma escrita muito singular, os personagens de Pinter encontram-se antes de tudo em um aqui e agora fechado, onde nem sempre podemos detectar com clareza o que querem, a que vieram ou o que farão; Constituem-se como forças que estão em um limite, como é o caso de Traição. O espaço fechado em que se encontram (um quarto, uma sala, etc.) é o lugar confinado que se constitui como um útero para esses personagens, um lugar de proteção que os fecha e que pretende fechar-se das forças que vêm de fora. Há sempre um embate de forças que não se dão a ver, num discurso habitado de ameaças, violações e revelações, num discurso combativo. Alguém quer acertar contas, alguém quer repassar o passado, esconder o presente; por meio dos diálogos quase coloquiais, que beiram o trivial e ganham força dramática através das pausas e silêncios — o não dito que é tão eloqüente quanto aquilo que é dito. Em Traição, essas “marcas” pinterianas estão todas presentes e o que se vê na encenação de Coslov é um cuidado com esses traços. Há um enorme respeito com essa dramaturgia, o que gerou uma montagem bastante convencional e sem riscos.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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