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A densidade da palavra na voz de Fernanda

Monólogo estruturado a partir da permanência em cena de uma atriz (sentada, valendo-se de econômica movimentação) durante uma hora de duração, Viver sem tempos mortos evidencia uma assinatura através de aparente invisibilidade. Felipe Hirsch, distante do registro de muitos dos trabalhos realizados na Sutil Cia. de Teatro – nos quais materializa a investigação da memória em texturas diversas das cenografias e na construção de uma atmosfera auxiliada por refinados recursos de iluminação –, aposta, dessa vez, no vigor interpretativo de Fernanda Montenegro. Uma opção que não determina a anulação de uma visão diretorial. A “presença” de Hirsch pode ser detectada na importância destinada à palavra, nas sutis gradações de luz (iluminação a cargo de Beto Bruel) que recortam o rosto da atriz no decorrer da apresentação, na neutralidade do figurino e na quase ausência de elementos cenográficos (direção de arte de Daniela Thomas). Elementos que se somam na afirmação da plataforma de um teatro calcado na síntese, na contramão do espetacular.
Formas inscritas

A peça de câmara da Sutil Companhia de Teatro inicia a sua relação com o espectador, através do título, com a palavra “não”. Não sobre o amor. Algum “não” se dá também quando o trabalho é apresentado como peça de câmara. Se esta é a primeira peça de câmara do grupo, os artistas envolvidos no trabalho estão, de certa forma, dizendo um pouco de não para um jeito de fazer teatro que eles já conhecem e que já sabem fazer. Se este novo trabalho demanda outro formato, dizer “não” para os procedimentos familiares é dizer “sim” a esta demanda. Dizer “não” pode ser o começo de algo, não um fim. O “não” do título também carrega um “sim” implícito, um “sim” inevitável. O espetáculo fala sobre o amor, mas não simplesmente sobre o amor: fala sobre formas de expressão e sobre falar (ou não) sobre o amor.
Flashes de um exílio subjetivo

Logo no início de Não sobre o Amor, Victor Shklovsky é atravessado, enquanto dorme, pela imagem de Elsa Triolet (rebatizada, em cena, de Alya), projetada ao fundo do palco. A passagem diz bastante sobre esta nova montagem de Felipe Hirsch, em especial no que se refere à importância do tempo em seu teatro.