Processos

[Des]esperando Godot – estudo de um processo de criação via negativa

24 de abril de 2013 Processos
Foto: Divulgação.

Como conceber uma criação artística que em seu próprio desdobramento criativo ambiciona a sua própria destruição? Como aluno-diretor do curso de Direção Teatral da UFRJ, optei por desdobrar a pesquisa “Poéticas negativas como campo de relações entre teatro, artes plásticas e performance”, sob orientação da professora Livia Flores, trabalhando sobre a encenação da peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, originalmente nascida como trabalho curricular que realizei em 2010 na disciplina Direção VI, tendo estreado em julho do mesmo ano. Essa encenação, inicialmente homônima ao texto de Beckett, acabou se transformando em Vazio é o que não falta, Miranda, quando estreamos em setembro de 2010 a primeira temporada na cidade do Rio de Janeiro. Em cena, como diretor, me junto às quatro atrizes para apresentar uma peça construída sobre a impossibilidade de sua construção. Através de uma sucessão de tentativas para encenar Godot, agimos certa “poética da negação” porque, após um processo que durou mais de um ano, desacreditamos no esperar de Godot e, em vez de encenarmos outra dramaturgia, encenamos a nossa própria dificuldade em ter que dar sentido àquilo que não mais nos servia.

Deus e o diabo na terra do sol – Em busca de uma experiência total

29 de janeiro de 2013 Processos
Foto: Divulgação.

“O difícil é ser total.”
Hélio Oiticica

Quando a Cia. Provisória surgiu, em 2008, na UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), tinha como horizonte de estudo e pesquisa cênica o teatro musical brasileiro e suas variáveis, já que era possível considerar, por exemplo, o Show Opinião (1964) como uma possibilidade de material prático desse estudo. Por fim, Calabar – o elogio da traição (1973), de Chico Buarque e Ruy Guerra, foi a peça escolhida para o início dos trabalhos.

Depois de seis meses de ensaios, aulas de canto, preparação vocal e corporal, Calabar estreou, e foi muito bem recebida pelo público e pela crítica, voltando a atenção da academia para o estudo do musical (que já vinha despertando o interesse dos discentes) e, sobretudo, pelo resultado da encenação que devolvia o teatro ao gênero, colocando a música como recurso da linguagem em vez de motivo para a cena, e se aproximando, como gênero, mais do épico do que do próprio musical.

Grupos em processo de criação

29 de janeiro de 2013 Processos

O projeto ENCENA foi para sua segunda edição mostrando, mais uma vez, os processos criativos de grupos de teatro. A intenção do evento é que grupos apresentem parte do seu processo de criação e/ou linha de trabalho que resultará numa montagem e, em troca, possa ter um feedback do público sobre o que foi mostrado. No dia 18 de outubro, seis grupos se apresentaram, na Galeria TAC, na Lapa.

O primeiro, Lamento e liberdade, de Brunno Vianna, conta a história de duas escravas no Período Regencial Brasileiro. Foi uma cena curta, de duas atrizes negras que representaram com muita autoridade e imbuídas do texto – do próprio diretor – as agruras da vida da época, as brincadeiras entre os seus e o linguajar. A formação acadêmica de Brunno Vianna certamente são fundamentais para a criação do texto mas, além disso, a pesquisa de documentos, música e pontos cantados por escravos e referências propostas por ele e executadas por Cláudia Leopoldo e July enriquecem o pouco que pudemos ver.

Sobre o risco de se ver em cena: um esclarecimento

31 de julho de 2012 Processos

Falar sobre um processo não é apenas descrever ou narrar o que acontece entre as quatro paredes de uma sala de ensaio. Talvez, sim, mas é possível que seja em um tom pouco íntimo ou até, quem sabe, incerto. E é na convivência quase diária com o grupo que será colocado aqui o processo de A Gaivota, de Anton Tchekhov. No caso, a montagem é À Gaivota, homonimamente como homenagem ao autor, dirigida por Maíra Kestenberg.

O desejo de montar a peça é tão antigo que se perdeu entre as atividades da diretora. Há mais ou menos 10 anos, em um curso com Matheus Nachtergaele, Maíra Kestenberg teve acesso ao texto como base para a oficina ministrada pelo ator. Desde então, A Gaivota passou a fazer parte do cotidiano, em suas funções básicas, em suas obrigações diárias, em amenidades quaisquer. Mas suas personagens estavam lá, amadurecendo, crescendo e se tornando aptas a aparecer, assim como a coragem de colocar em cena tudo o que o mundo tchekhoviano oferece ao leitor / espectador. Além da formação em Interpretação, a extensão no curso de Direção e então, no segundo semestre de 2011, a oportunidade de trabalhar um texto que se desdobraria em uma montagem estava ali: foram seis meses de trabalho divididos de forma bem precisa e equilibrada, diferentes técnicas como bases para extrair da dramaturgia o que seria, mais tarde, o suporte para o espetáculo.

Teatro documentário ou sob o risco do real

12 de outubro de 2011 Processos
Foto: Divulgação.

Experimentamos o poder de representação da cena e o fato de que tudo que nela é mostrado se torna automaticamente teatro, mas pesquisamos também, o modo como o olhar se modifica segundo a natureza daquilo que é colocado em cena. São peças onde não se sabe mais onde começa o teatro e onde acaba a realidade. Trata-se de percepção, de recognição do mundo e, particularmente, dos homens.
(texto extraído do site do coletivo alemão Rimini Protokoll)

Na busca de entender o que na cena contemporânea vem se convencionando chamar de Teatro Documentário (1), é que desenvolvemos a breve exposição que se segue. Essa primeira fase da reflexão foi um desdobramento do experimento Festa de separação: um documentário cênico (2008) (2), espetáculo que tem sua dramaturgia e cena constituídas por material autobiográfico elaborado a partir de festas de separação, verdadeiros happenings, que foram a base do processo de criação. Nos perguntamos então sobre as implicações de uma cena constituída a partir do “real” e passamos a refletir sobre os diferentes pressupostos e elaborações através de obras de artistas como a argentina Vivi Tellas ou o coletivo alemão Rimini Protokoll.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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