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Da (minha) impossibilidade em escrever sobre espectáculos: do quotidiano, da memória e do amor
Não é de agora, mas tenho cada vez mais dificuldade em escrever sobre espectáculos. Tenho cada vez mais dificuldade em traduzir para palavras a experiência de vida que um espectáculo inspira. Dou por mim sem capacidade (vontade? generosidade?) para articular raciocínio sobre o que acabou de me acontecer. Penso: o espectáculo já me aconteceu. Tudo o resto é memória e cemitério. Tudo o resto é já parte de mim. Não há exercício analítico de memória, seja ela episódica ou semântica, feliz ou infeliz, perene ou transiente, que me consiga resgatar as horas de tráfego autopoiético entre o meu corpo e a cena. É coisa acabada. E bem. É assim que deve ser. Penso.
Dito isto, não vem desta (minha) impossibilidade grande mal ao mundo. São coisas cá minhas – que nem sequer vêm ao caso.
Confessava esta minha inaptidão porque o espectáculo Osmarina Pernambuco não consegue esquecer, de Keli Freitas, estreado no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em Novembro de 2019, agudiza ainda mais esta minha disfunção. Nunca, como espectador, vivi um espectáculo desta forma.
Uma homenagem despretensiosa
A reinauguração do Teatro Ipanema, a cargo do coletivo Pequena Orquestra, atualmente encarregado pela ocupação do espaço, contou com uma homenagem a Hoje é dia de rock, a célebre montagem que se tornou uma febre teatral em 1971, marco do grupo liderado por Rubens Corrêa, Ivan de Albuquerque e Leyla Ribeiro. Agora, a Pequena Orquestra volta a evocar a peça de José Vicente através de um projeto conjunto que também reúne integrantes da Cia. das Inutilezas e da Cia. Dani Lima, todos sob a direção da argentina Lola Arias, encarregada ainda da dramaturgia.