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Crônica de um divórcio entre ator e cenário
“Esse divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e seu cenário, é que é propriamente o sentimento do absurdo. Como já passou pela cabeça de todos os homens sãos o seu próprio suicídio, se poderá reconhecer, sem outras explicações, que há uma ligação direta entre este sentimento e a atração pelo nada.”
Albert Camus, “O mito de Sísifo”
Ao entrarmos no teatro, deparamos com um parque de diversões abandonado, com direito a trem fantasma, carrinho bate-bate, piscina de bolas, a coluna vertical em forma de termômetro que mede a força do martelo do aspirante a super-herói, e uma geringonça de difícil definição, espécie de gaiola, onde a princípio se aboleta o tenente. Além de evocar calorosamente o Tivoli Park, que ficava na frente do mesmo Jockey cujo teatro recebe hoje Ana e o tenente, o cenário chama a atenção pelo cuidado com que foi realizado. Em produção de proporções modestas, sua qualidade desponta como promessa de um espetáculo de qualidade.
Memória sem sujeito
“Todas as mensagens foram apagadas” é o título da primeira das 17 situações para o teatro. Poucas passagens ecoam de forma tão atemorizante para a contemporaneidade como este ruído de ausência. Na era dos terabytes, das milhares de fotos domésticas arquivadas com a esperança de registrar todos os dias de nossas vidas; raros são os textos que peitam a aquiescência da narração, tal como a peça Tentativas contra a vida dela, de Martin Crimp, dirigida por Felipe Vidal, em cartaz no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.