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Atos da fala como percepção
A peça Arte, em cartaz no Teatro do Leblon, encena o texto da dramaturga argelina, radicada na França, Yasmina Reza que, desde a sua estreia em 1995 em Paris, ganhou uma série de traduções e encenações em diversos países. No Brasil, esta encenação é realizada pela segunda vez, tendo sido a primeira dirigida por Mauro Rasi em 1999, com José Mayer, Luis Gustavo e Pedro Paulo Rangel formando o elenco. A montagem atual tem a tradução e a direção de Emílio de Mello e conta com os atores Marcelo Flores, Claudio Gabriel e Vladimir Brichta. Nessa montagem se dá a ver uma proposição que articula seus elementos em uma relação que ilumina a dramaturgia, deixando escapar em sua composição estética a força dos atos da fala como construção das nossas subjetividades.
Imagens em repercussão poética
Em cartaz no espaço da Caixa Cultural, a peça Cartas de amor – Electropoprockoperamusical, que teve sua estreia em 2010, dirigida por Flávio Graff e co-dirigida por Emílio de Mello é um potente roteiro para o imaginário acerca do amor. A palavra roteiro traz o movimento de percurso com ideias em desenvolvimento. O que surge é a desconstrução do ideal romantizado, deslocamento do lugar da fixação amorosa. Estão em jogo descobertas do amor como um pertencimento variacional: é daquele que ama, ou melhor, é potência que se inventa no amor que existe e que, em alguns momentos, encontra repercussão. Questão teórica que aparece: a repercussão das imagens poéticas. Termo que inclui significados de nova direção, de afastamento, de diferenças direcionais dos fluxos, de reprodução e de transmissão que não se afirmam pela causalidade. Cartas de amor é uma obra que coloca as dobras do amor em sua estrutura. Uma das inspirações para o roteiro foram textos de cartões postais adquiridos pelo ato do colecionador, o que em alguma medida gerou uma miríade de escritos poéticos como letras de músicas. Plataforma em constelação.
Conexões históricas e atemporais
Se o teatro é uma arte efêmera, uma das possibilidades da crítica será a de exercer sua memória. Memória do transitório. Esse poderia até ser o título desse texto, na medida em que escrevo de memória sobre uma peça que dá forma a temporalidades distintas. Este novo olhar sobre a peça só pode ser incorporado no seu sentido mais estrito tendo em vista o fato de sua atualidade. In On It está em cartaz em São Paulo no Teatro FAAP e fará uma incursão na próxima edição do Festival de Curitiba. Este contexto me fez refletir a respeito do potencial que existe em rememorar – termo mais específico ainda quando os fatos passados transitam por meio da linguagem. Quando narramos o evento passado, ele não aparece na sua forma integral ou fidedigna, mas sim, atravessado pelo momento presente que, ao mesmo tempo, resulta de outra série de acontecimentos decorridos.
O avesso das convenções teatrais
In on it, peça de Daniel MacIvor, desponta como um exercício intrigante. O termo exercício não diz respeito a um material apenas rascunhado, que não teria atingido um acabamento profissional, e sim a uma dramaturgia em aberto, “indefinida”, propícia à experimentação, principalmente no modo como diretor e atores lidam com a alternância de planos entrelaçados pelo autor.
Ao longo de toda a encenação, Enrique Diaz deixa a impressão de subverter convenções teatrais. Os atores Emílio de Mello e Fernando Eiras transitam, por exemplo, entre registros vocais diversos: no plano em que os personagens surgem “desarmados”, conversando de modo coloquial, suas vozes entram em sintonia com um naturalismo construído, destituído de efeitos; já no plano em que os personagens representam, os atores se valem de uma projeção mais tradicional, mais frequentemente encontrada em apresentações teatrais.
Cena poluída por interferências
Mais do que trazer à tona a carga de não-dito contida nas relações entre as personagens, Tennessee Williams, tanto em suas peças curtas quanto nas mais consagradas, é um dramaturgo voltado para figuras que se distanciam da esfera do real através da criação de universos paralelos, onde passam a habitar. A hóspede da pensão barata de A Dama da Lavanda, uma das três peças que compõem a seleção do espetáculo Quartos de Tennessee (as outras são Fale Comigo como a Chuva… e O que não foi Dito), está diretamente ligada à Blanche Dubois, protagonista de Um Bonde chamado Desejo, no que se refere à construção de um mundo próprio, bem menos cruel que a realidade. Muitas das criaturas de Tennessee parecem atravessadas por uma sensação de permanente desajuste.