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Conexões históricas e atemporais
Se o teatro é uma arte efêmera, uma das possibilidades da crítica será a de exercer sua memória. Memória do transitório. Esse poderia até ser o título desse texto, na medida em que escrevo de memória sobre uma peça que dá forma a temporalidades distintas. Este novo olhar sobre a peça só pode ser incorporado no seu sentido mais estrito tendo em vista o fato de sua atualidade. In On It está em cartaz em São Paulo no Teatro FAAP e fará uma incursão na próxima edição do Festival de Curitiba. Este contexto me fez refletir a respeito do potencial que existe em rememorar – termo mais específico ainda quando os fatos passados transitam por meio da linguagem. Quando narramos o evento passado, ele não aparece na sua forma integral ou fidedigna, mas sim, atravessado pelo momento presente que, ao mesmo tempo, resulta de outra série de acontecimentos decorridos.
O avesso das convenções teatrais
In on it, peça de Daniel MacIvor, desponta como um exercício intrigante. O termo exercício não diz respeito a um material apenas rascunhado, que não teria atingido um acabamento profissional, e sim a uma dramaturgia em aberto, “indefinida”, propícia à experimentação, principalmente no modo como diretor e atores lidam com a alternância de planos entrelaçados pelo autor.
Ao longo de toda a encenação, Enrique Diaz deixa a impressão de subverter convenções teatrais. Os atores Emílio de Mello e Fernando Eiras transitam, por exemplo, entre registros vocais diversos: no plano em que os personagens surgem “desarmados”, conversando de modo coloquial, suas vozes entram em sintonia com um naturalismo construído, destituído de efeitos; já no plano em que os personagens representam, os atores se valem de uma projeção mais tradicional, mais frequentemente encontrada em apresentações teatrais.