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Arquiteturas de um duplo homicídio
Vol. VIII nº64, maio de 2015.
Resumo: O presente artigo tem como escopo um olhar sobre o processo de criação e de ensaios do espetáculo Duplo homicídio na Chaptal 20, da companhia curitibana Vigor Mortis. No texto, há conjecturas ainda sobre os aspectos do processo de construção dramatúrgica e cênica vivenciados pelo autor deste texto, nas funções de dramaturgista e ator ao lado da Vigor Mortis. Chaptal 20 se refere ao endereço do célebre Théâtre du Grand Guignol de Paris, que abrigou em seu palco centenas de peças de horror e violência. Desde sua fundação em 1997, a Vigor Mortis estuda e pesquisa o gênero e a estética do Grand Guignol. Duplo Homicídio na Chaptal 20 foi apresentada pela primeira vez ao público curitibano no mês de novembro de 2014 no Teatro Novelas Curitibanas.
Ao telefone
Introdução
O público se prepara para mais uma sessão no instigante Teatro do Grand Guignol. A tensão e a expectativa tomam conta do lugar. O local? Rua Chaptal, Paris. A época? Final do século XIX. O Grand Guignol é o nome de um teatro parisiense inaugurado em 1897 e que funcionou até o ano de 1963. Sua especialidade eram os espetáculos que se caracterizavam pelo tom macabro e pela violência. O sucesso alcançado foi tanto que se espalhou por vários países da Europa e foi uma das grandes inspirações do cinema de horror britânico, americano e do cinema expressionista alemão. O nome “Guignol” é oriundo de um boneco criado na França no final do século XIII e que se popularizou por fazer sátiras políticas.
O teatro da Rua Chaptal era o local das experimentações do seu primeiro diretor, Oscar Métenier. Métenier defendia a abolição dos limites impostos pelas convenções cênicas da época, em que a frontalidade para com o público estava em voga. Ele buscava uma maior autenticidade na ficção. Seu principal objetivo era a concepção de um espaço teatral baseado na reorganização da realidade das cenas. Os atores poderiam então se desvincular da imposição de se postar ”teatralmente” e agir como se estivessem em suas próprias casas (entrar e sair de cena queria dizer entrar e sair de um quarto ou sala, e não mais de uma cenografia que ”representava” o lugar). Paralelamente às inovações estruturais da direção recém-surgida, mudavam também os próprios conteúdos das representações, influenciados pela poética do teatro e da literatura realistas, de autores como Edgar Alan Poe e André de Lorde.