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Máscara transparente
A conversa foi realizada em março de 2010.
DANIELE AVILA – Seria interessante se você pudesse começar falando um pouco sobre a peça e sobre o que é importante pra você como artista nessa peça.
CHRISTIANE JATAHY – Pra mim, o Corte seco se instaura como uma parte importante de uma pesquisa que, como vocês sabem, não começa com Corte seco. De alguma forma, o que está ali, sendo visto pelo público, no momento em que a peça está sendo feita – porque a peça tem essa característica de estar sendo feita em parte na hora – é muito do que a gente viveu, muito do que eu aplico, em todos os meus processos. De fato, o Corte Seco é uma tentativa, um desejo de abrir o processo, ou seja, colocar em cena de alguma forma a maneira como eu trabalho, tanto para a construção de uma peça quanto para o treinamento. Isso está tão ligado à questão dos sistemas, ao uso dos sistemas como material provocativo pra construção da dramaturgia, um estímulo para os atores construírem a cena, como também a essas interferências, que têm o objetivo de tornar vivo o que está acontecendo na cena, o que vai gerar uma dramaturgia que se transformará numa coisa que, apesar de parecer aberto, não está aberto. Está aberto como qualquer outra peça.
Como se chama ou Por afeto
Uma peça com dois títulos, ou dois títulos colados um no outro: esse é um pressuposto que não pode ser deixado de lado. O título de uma peça não é dado arbitrariamente, ele pode compor o sentido da obra, explicitar algum motivo do processo de trabalho, pode ser um enigma ou só mesmo uma frase de efeito. Colocar dois títulos juntos numa peça me parece ser uma proposta feita ao público a priori: você pode ver desta ou de outra maneira, você pode entender isto ou aquilo. Ou ainda: você pode ver desta e de outra maneira, entender isto e aquilo. O “ou” do título me parece sugerir sobreposições. Ele é um pouco “e”.