Autor Henrique Gusmão
Sobre Stanislavski. Precisão histórica, circulação e mobilidade das proposições do encenador russo
Vol. VIII, nº 65, agosto de 2015
Resumo: Proponho, nesse texto, uma discussão sobre a obra de Constantin Stanislavski a partir da análise do livro Stanislavski revivido, que reúne as transcrições de conferências e debates promovidos pela SP Escola de Teatro, no momento em que se completaram 150 anos do nascimento do encenador. Analiso as questões mais recorrentes nas falas, destacando as tentativas de recuperação das precisas condições históricas de produção do teatro stanislavskiano, e o estudo das formas de circulação, apropriação e mobilidade de sua obra.
Palavras-chave: Constantin Stanislavski (1863-1938), legado, circulação de bens simbólicos, apropriação
Abstract: I propose in this paper a discussion on Constantin Stanislavski’s work through the analyses of the book Stanislavski revivido, which brings together the transcriptions of conferences and debates promoted by the SP Escola de Teatro in the occasion of the 150 years of the director’s birthday. I analyze the most frequent questions that appear in the debates, highlighting the attempts to rescue the precise historical conditions of Stanislavski’s theater and the study of the forms of circulation, appropriation and mobility of his work.
Keywords: Constantin Stanislavski (1863-1938), legacy, symbolic goods circulation, apropriation
Em janeiro de 2013, completaram-se 150 anos do nascimento de Constantin Stanislavski. A partir dessa data, uma série de eventos, em diferentes locais do mundo, foi realizada em homenagem ao artista russo, assim como se ampliaram os debates em torno de sua obra e de seu legado. No Brasil, em dezembro desse ano de 2013, foi realizado o “Seminário 150 anos de Stanislavski na SP Escola de Teatro”, espaço que vem empreendendo uma série de contribuições aos estudos teatrais contemporâneos, por meio de palestras, encontros e debates. Seis pesquisadores[1], ao longo de três dias, apresentaram diversas questões ligadas ao teatro stanislavskiano e, ao final de suas falas, debateram com a plateia presente. O livro Stanislavski revivido (2014), organizado por Ney Piacentini e Paulo Fávari, é o resultado desses três dias de discussões, trazendo para um público mais amplo as transcrições de todas as falas proferidas, assim como dos debates.
Entre a naturalização necessária e a desnaturalização histórica
Proponho, neste texto, uma reflexão sobre o lugar da crítica interna em companhias teatrais – lugar este que vem sendo nomeado, contemporaneamente, como dramaturgista. Tendo em vista a minha experiência na companhia Studio Stanislavski – companhia que participa da vida teatral carioca há mais de 20 anos sob a direção de Celina Sodré – e o meu interesse cada vez maior por textos, questões, autores e obras provenientes de uma sociologia da cultura (ou de uma história cultural), sugiro um debate que parta de algumas referências e modelos teóricos e proponha conjuntos de questões que podem ser pertinentes para este trabalho de crítica interna.
Inicio a reflexão com a referência que mais irá marcar este texto: Pierre Bourdieu, especialmente a partir de sua obra As regras da arte. Na última parte do livro, Bourdieu apresenta alguns mecanismos de análise muito usuais na área dos estudos sobre arte e cultura que, segundo ele, precisariam ser combatidos. Uma primeira, oriunda de uma tradição hegeliana, buscaria entender a produção das obras culturais a partir de grandes identidades sociais. A identidade (ou, para usarmos um termo caro à tradição intelectual alemã oitocentista, a “ideia”) produzida por diferentes povos seria a chave de explicação e interpretação de suas obras culturais e artísticas.
Conversa com Vinícius Arneiro
A conversa com Vinícius Arneiro, diretor do espetáculo Cachorro!, foi realizada em março de 2008 por Henrique Gusmão.
HENRIQUE: Vinícius, Cachorro! é o trabalho de uma companhia que vocês formaram?
VINÍCIUS: É um grupo.
HENRIQUE: Você pode contar um pouco da história do grupo?
VINÍCIUS: Eu, Paulo Verlings e Felipe Abib nos formamos juntos na Martins Pena no primeiro semestre de 2006. Mas desde que a gente entrou na Martins Pena, eu e o Paulo tínhamos uma afinidade muito grande, então nos juntamos logo. Na verdade, o primeiro trabalho que a gente fez foi na época em que entramos na escola, em 2004, e se chamava Deus danado. Era um esquete. A gente participou do Circuito Carioca de Esquetes e o Paulo ganhou o prêmio de ator. Depois entramos em cartaz no Planetário e no Sérgio Porto. Logo depois, a gente circulou muito, fomos em todos os festivais de esquete. E num destes festivais a gente conheceu a Carolina Pismel. Um tempo depois, em 2006, o Paulo e a Carol pediram um texto ao Jô Bilac. O Jô tinha acabado de adaptar uma cena do filme Traição, que tinha o roteiro da Patrícia Melo, um segmento chamado Cachorro!.