Tag: 2º Encontro Questão de Crítica

Instabilidades na recepção crítica ao teatro de pesquisa

27 de dezembro de 2013 Estudos

Correlacionamos aspectos pontuais da historiografia da crítica teatral para perceber a atividade aos olhos da cena contemporânea irradiada da cidade de São Paulo, onde atuamos no jornalismo cultural. Gradações humanistas, políticas e sociais refletidas agudamente na produção do período da ditadura militar ganham tonalidades outras, e não menos contundentes, sob a paleta do teatro de pesquisa e a voga dos grupos. Conjunções artístico-ideológicas demandam ao profissional ou ao militante da crítica sintonizar também porosidades para além das linguagens e estéticas. Tocar o fio de alta tensão condutor de arte e cidadania. Localizar no radar a demagogia e a incisão.

Guinsburg e Patriota anotam que as temporadas de meados dos anos de 1960 em diante tornaram evidentes o fortalecimento de vínculo entre arte e política, o engajamento em causas populares e a recusa da chamada concepção burguesa. Tudo em defesa de obras que transcendessem as salas de apresentação. Esse processo precipitou novamente a valorização do texto com eixos históricos e sociais. Fruto das sementes da politização pré-ditadura espalhadas pelos Seminários de Dramaturgia do Teatro de Arena, a partir de 1958, e dos Centros Populares de Cultura, os CPCs da União Nacional dos Estudantes, a UNE, despontados poucos meses depois.

Dramaturgias

27 de dezembro de 2013 Estudos

A palavra “dramaturgia” tem uma série de significados e, cada vez mais, eles se ampliam e se superpõem, apontando para a história do teatro e também para as questões que animam a discussão estética contemporânea.

A acepção mais difundida do termo dramaturgia remete ao campo da escrita de peças para o teatro. Falamos da dramaturgia de uma época, usamos o termo para referir o conjunto de peças de um dado autor ou ainda para aludir aos recursos de composição utilizados em um dado texto dramático. Mas há outra acepção de dramaturgia que se liga prioritariamente à constituição de uma narrativa cênica, espetacular, e para a qual, em português do Brasil, dispomos também do termo dramaturgismo. É desta última significação que vamos aqui tratar, em seus contornos históricos e estéticos.

Ao abordar a dramaturgia será sempre de produção de sentido que vamos falar. Seja ao evocar Lessing, historicamente o primeiro Dramaturg, seja ao descrever as diferentes tarefas que um dramaturgista pode desempenhar, ou ainda ao refletir sobre a operação de pensamento inerente à criação artística.

Entre a naturalização necessária e a desnaturalização histórica

27 de dezembro de 2013 Estudos

Proponho, neste texto, uma reflexão sobre o lugar da crítica interna em companhias teatrais – lugar este que vem sendo nomeado, contemporaneamente, como dramaturgista. Tendo em vista a minha experiência na companhia Studio Stanislavski – companhia que participa da vida teatral carioca há mais de 20 anos sob a direção de Celina Sodré – e o meu interesse cada vez maior por textos, questões, autores e obras provenientes de uma sociologia da cultura (ou de uma história cultural), sugiro um debate que parta de algumas referências e modelos teóricos e proponha conjuntos de questões que podem ser pertinentes para este trabalho de crítica interna.

Inicio a reflexão com a referência que mais irá marcar este texto: Pierre Bourdieu, especialmente a partir de sua obra As regras da arte. Na última parte do livro, Bourdieu apresenta alguns mecanismos de análise muito usuais na área dos estudos sobre arte e cultura que, segundo ele, precisariam ser combatidos. Uma primeira, oriunda de uma tradição hegeliana, buscaria entender a produção das obras culturais a partir de grandes identidades sociais. A identidade (ou, para usarmos um termo caro à tradição intelectual alemã oitocentista, a “ideia”) produzida por diferentes povos seria a chave de explicação e interpretação de suas obras culturais e artísticas.

Cinema e crítica

27 de dezembro de 2013 Estudos

Como pensar a crítica cinematográfica hoje, em meio a uma redução crescente de jornais e revistas especializadas da mídia impressa e a uma proliferação digital sem precedentes de sites, blogs, revistas e grupos especializados em cinema e audiovisual nas redes sociais? É possível um pensamento crítico sobre obras contemporâneas que tenha alguma possibilidade de ser notado e influir em um público cada vez mais disperso? Vivemos um “individualismo popular de massa” constituído por uma multidão de seres solitários diante de seus monitores. Como pensar o cinema em meio a essa “cultura das telas”(1) e não mais uma cultura da imagem?

Quero aqui fazer algumas observações a respeito do estado da crítica de cinema em um momento em que essa arte industrial perdeu definitivamente o lugar privilegiado que possuía entre as narrativas audiovisuais, disputando espaço com programas variados da televisão aberta e de canais a cabo, assim como com todas as opções de entretenimento que a internet oferece – sem falar na concorrência do cinema projetado em salas com os filmes baixados na internet, que não passam por critérios críticos que ainda podem marcar, residualmente, a fruição de um filme em uma sala de cinema.

A crítica como atitude

27 de dezembro de 2013 Estudos

O que é a crítica?

Para arriscar alguma resposta, penso em Foucault, e em como se aproximou do termo, na conferência que ofereceu à Sociedade francesa de filosofia, em 27 de maio de 1978, intitulada O que á a crítica? (Crítica e Aufklärung [Cítica e reconhecimento]). Ao observar o que chama de “atividades polêmico-profissionais que trazem esse nome de crítica”, percebe que nessas atividades “uma certa maneira de pensar, de dizer, de agir[…] uma certa relação com o que existe, com o que se sabe, com o que se faz, uma relação com a sociedade, com a cultura, uma relação com os outros também, e que se poderia chamar, digamos, de atitude crítica” (Foucault, 1990: p.2). Portanto, pelo que observa o filósofo, antes de se formular como discurso, a crítica caracteriza uma atitude. Uma atitude cuja natureza se delineia e cuja função, como ele diz na mesma página, se configura “em relação a outra coisa que não ela mesma”.

A primeira noção sobre a natureza relacional da crítica, consequente à lógica que Foucault estabelece, remete à ideia de discurso intermediário, de instrumento. A crítica é instrumento, “meio para um devir” (Foucault: p.2). Sob esse aspecto, a crítica, ou melhor, o discurso pelo qual se manifesta, constitui-se em discurso a serviço de, discurso à disposição de, e que estabelece, com os campos de conhecimento ou de produção em que se insere, e a que refere, uma relação de pertencimento. Para esse campo eleito, estabelece princípios, critérios e códigos específicos, conforme os modos de pertencimento que queira estabelecer.

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Questão de Crítica

A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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