Ao longo do tempo, João Falcão vem conjugando as funções de dramaturgo e diretor, acúmulo perpetuado agora no musical Gonzagão – A lenda, concebido para homenagear Luiz Gonzaga no centenário de seu nascimento. A qualidade das músicas, a adesão do elenco e a vibração da cena credenciam esse espetáculo brasileiro por excelência que sublinha certas opções no que se refere à configuração da cena.

Uma das características mais evidentes na encenação de João Falcão é o palco limpo, que permanece assim durante boa parte da apresentação. Os atores entram trazendo os elementos referentes a cada cena e os levam embora ao final da passagem (cenografia e adereços a cargo de Sergio Marimba). Os músicos (direção musical de Alexandre Elias) emolduram esse espaço “vazio” por onde transitam os atores trajados em figurinos (de Kika Lopes) sempre criativos, que surpreendem sem apelar para o esfuziante. As tonalidades neutras imperam – com exceção de poucos momentos, como o do passional reencontro entre Gonzagão e Gonzaguinha. Contrastando com essa neutralidade, a iluminação (de Renato Machado) preenche a amplidão do palco do Sesc Ginástico com cores fortes (vermelho) – ou conferindo intensidade a tons frios (azul) – sobrepostas a uma cortina rendada ao fundo.