Tag: crítica teatral
A cidade sem crítica – sobre teatro e impermanência em Curitiba
Esse texto[1] articula a minha pesquisa acadêmica, assim como a minha vivência como crítico e artista – pesquisa que atravessa as minhas graduações, em jornalismo e em artes cênicas, uma especialização em antropologia cultural e, atualmente, uma pesquisa de mestrado em filosofia. O modo como eu entendo e como eu venho pensando a crítica de arte, e mais precisamente a crítica de teatro, é de uma forma inexoravelmente interdisciplinar. O meu lugar de fala, portanto, é de um artista-pesquisador-crítico e não parece ser possível dissociar nenhuma dessas esferas, ainda que seus desenvolvimentos e exercícios aconteçam com várias particularidades (essa ideia de uma “crítica de artista”[2] é desenvolvida por Daniele Avila Small, mais especificamente no artigo “Crítica de artista ou O crítico ignorante 7 anos depois”, mas perpassa também o seu livro O crítico Ignorante, em que o pensamento de Jacques Rancière é central, em referência a uma obra chamada O mestre ignorante).
A poética teatral em marcos axiológicos: critérios de valoração
Artigo originalmente publicado na Revista Colombiana de las Artes Escénicas Vol. 4, janeiro-dezembro de 2010. pp. 9 – 15. Tradução: Luciana Eastwood Romagnolli.
Vol. VII, nº 62, junho de 2014
Resumo: A partir dos princípios teóricos da Filosofia do Teatro, propõem-se parâmetros sistemáticos para o exercício da crítica, isto é, para a consideração das poéticas teatrais em marcos axiológicos. Os dez parâmetros destacados são: adequação, técnica, relevância simbólica, relevância poética, relevância histórica, critério ideológico, perspectiva genética, efetividade (ou estimulação do espectador), transformação (ou recursividade), teatralidade singular do teatro.
Palavras-chave: Filosofia do teatro, crítica, poéticas, axiologia, parâmetros.
Abstract: From the theoretical principles of theater philosophy, systematic parameters are proposed for the critique exercise, this is to say for the consideration of theater poetry in axiological frameworks. The ten highlighted parameters are: technical suitability, symbolic relevance, poetic relevance, historical relevance, ideological criterion, genetics perspective, effectiveness (or audience stimulation), singular theater theatricality.
Key words: Philosophy of theatre, criticism, poetics, axiology, parameters
O declínio da crítica na imprensa brasileira
Esse texto foi publicado originalmente nos Cadernos de Teatro do Tablado, na edição de número 100, de janeiro/junho de 1984.
Quando, em 1963, fui fazer minha estréia como crítico do Jornal do Brasil, ouvi um solene sermão do então Secretário do Caderno B, Nonato Masson, sobre a responsabilidade que eu estava assumindo. Ele me dizia que a página 2 do Caderno, que na época reunia diariamente as diversas colunas especializadas em arte e cultura, era uma espécie de menina dos olhos do jornal; que por ela haviam passado alguns dos mais brilhantes expoentes do jornalismo brasileiro; que a empresa era particularmente exigente na escolha dos colaboradores dessa página de enorme prestígio; e, portanto, que eu teria de caprichar muito para mostrar-me à altura dessa admirável tradição.
O que é, mais uma vez, a crítica?
Problemática, polêmica, ameaçada de falência e de estar à margem do seu próprio universo de atuação, ela não se cala. Sob olhares desconfiados por todos os lados ela permanece, há séculos, como pedra, sobrevivendo aos que não lhe querem. Maldita, é infalível e independente. Se não há mais lugar para ela aqui, encontra acolhimento ali, transita, transmuda, se move. A crítica não está falida, não está morta e pertence mais ao mundo da arte do que muitos eventos que se autodenominam artísticos. Ela está apenas em crise. Bom para ela: este é o seu habitat natural.
Podemos nos perguntar “o que é a crítica?” e formular respostas diversas, calcadas na etimologia, nas origens históricas do seu surgimento, na aplicação do termo em estudos filosóficos. De qualquer forma, seria difícil não concluir que a crítica é característica indissociável do pensamento do homem moderno. A atitude crítica é uma forma de estar no mundo que é própria ao nosso tempo. Enquanto estivermos por aqui, ela também vai estar. E sempre que houver algum tipo de soberania em jogo, ela vai ser um problema.
A obra de arte julga: o crítico no cambiante cenário teatral
Este artigo foi publicado originalmente em inglês, em novembro de 2000, na revista New Theatre Quarterly (NTQ 64, VOL XVI, PART 4). Josette Féral é crítica, teórica e professora na École Supérieure de Théâtre de l’UQAM, em Montréal, no Canadá, desde 1981.
“Os críticos julgam a obra de arte e não se dão conta de que a obra de arte julga os críticos.”
Jean Cocteau
O exemplo do esporte: A Copa do Mundo de julho de 98
Domingo, 12 de julho de 1998. A final da Copa do Mundo traz a França contra o Brasil. A França está ganhando de 3 a 0. Em poucos minutos, o jogo vai acabar. Pela primeira vez na História, contra todas as previsões dos críticos de esporte, a França está quase ganhando o jogo e, assim, entrando para o clube muito seleto de vencedores da Copa do Mundo. A exaltação do povo francês é sem precedentes: com um milhão e duzentas mil pessoas no Champs Elisées, a França se identifica totalmente com este time a que chamam “Les Bleus” e que reúne jogadores brancos, marrons e negros.