Autor Julia Guimarães
Do confinamento à convivência

Desde seu espetáculo de estreia, Hysteria, o Grupo XIX del Teatro tem construído uma linguagem cênica permeada pela interlocução sensível com o público, seja ao inseri-lo dramaturgicamente na ficção, seja pelo grau de intimidade e cumplicidade como ele é abordado pelos personagens a cada montagem.
Esse mesmo acento de pesquisa surge radicalizado no mais recente trabalho do grupo, Estrada do Sul, criado em parceria com a Compagnia del Teatro dell’Argine (Itália), com direção e dramaturgia do italiano Pietro Floridia. Após estrear em setembro, na Vila Maria Zélia, em São Paulo, onde fica a sede do XIX, o espetáculo fará nova temporada no mesmo local durante o mês novembro.
Devaneio metateatral sobre a cultura das aparências

Em 1943, quando o diretor polonês Ziembinski estreou sua versão para a peça Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, quem estava na plateia talvez não pudesse suspeitar que, naquela noite, o teatro brasileiro inaugurava historicamente sua fase moderna. No entanto, era inegável o estranhamento gerado pela opção rodrigueana de concentrar toda a ação cênica na cabeça da protagonista Alaíde. Após ter sido atropelada e chegar à sala de cirurgia entre a vida e a morte, a personagem se tornou marco de nossa dramaturgia ao oscilar entre os planos da memória, da realidade e da alucinação.
É também a estranheza fragmentária e lacunar gerada pela sobreposição de planos um dos pontos de contato mais fortes entre Vestido de noiva e o novo espetáculo do Grupo XIX de Teatro, Nada aconteceu, tudo acontece, tudo está acontecendo, livremente inspirado na obra clássica de Nelson e com dramaturgia criada pelo grupo em parceria com Alexandre Dal Farra. A direção é de Luiz Fernando Marques e Janaina Leite.