Autor Lorenna Rocha
Tempo crioulo, tempo criativo
Diego Araúja é artista de Salvador. Produz arte de modo expandido desde 2011. Suas mídias são literárias, visuais, cênico-performáticas e cinematográficas; nas funções de diretor, dramaturgo, cenógrafo, roteirista e artista visual. Dirige o processo Estética Para um Não-Tempo, com o objetivo de instaurar tempos qualitativos para a produção de memórias afro-diaspóricas emancipadas do trauma; o que gerou a obra QUASEILHAS (2018). Este processo possui 2 investigações complementares: estudos da performance-exposição das psiques negras no campo narrativo; e o Laboratório Internacional de Crioulo (LIC), que consiste na fundação de um agrupamento atlântico-internacional entre artistas do corpo para conceber, a longo prazo, “uma língua não-nascida do trauma”, um novo crioulo. O LIC foi ativado em 2020 no Pivô Arte e Pesquisa (São Paulo-SP) e, ainda em 2021, iniciará o mapeamento de artistas do corpo no mundo atlântico, através da Trienal FRESTAS (Sorocaba-SP). Em 2017 Araúja funda, juntamente com a artista Laís Machado, a Plataforma ÀRÀKÁ – um território de criação e produção em arte expandida e transdisplinar. Concebeu uma performance coreográfica para videoinstalação A Marvellous Entanglement, do artista britânico Isaac Julien. Foi convidado para as residências artísticas: Atlantic Center For The Arts (Flórida-EUA) e SAVVY Contemporary (Berlin-GER) em 2020. No mesmo ano, participou do ¡ADELANTE! – Iberoamerikanisches Theaterfestival (Heidelberg-GER) com seu trabalho QUASEILHAS. Diego Araúja também foi indicado a “melhor diretor” por QUASEILHAS; e ganhou o prêmio na categoria “melhor texto” pelo Prontuário da Razão Degenerada, além das indicações de “melhor diretor” e “melhor espetáculo”, respectivamente, no Prêmio Braskem de Teatro da Bahia 2019 e 2020.
A conversa foi realizada por Daniele Avila Small e Lorenna Rocha em março de 2022 para a revista Critical Stages e publicada primeiramente em inglês.
Qual o lugar do teatro na sua formação como artista?
A decisão de ser artista veio antes da decisão do que fazer como artista. Apesar disso, lembro de ter a clara consciência da minha disposição para a narrativa. Como ouvinte, leitor ou plateia, mas também como praticante da narração. Não é simplesmente um ditado, expressão retórica ou, até mesmo, uma mentira; quando alguém diz que as histórias estão para além da narração, do livro, da performance de contação. Que está nas sonoridades, melodias, em imagem, como espaço, em movimento, nessas possibilidades do abstrato. Por isso fui buscando a narrativa por esses meios: escola de música, ateliê de artes plásticas, metalúrgica náutica, marcenaria e mercearia, curso de escrita criativa, concepção fílmica. Estava buscando a resposta para a pergunta: o que poderia ser essa minha narrativa?.
Circuitos virtuais pretos
Quais são os monumentos que devemos derrubar no teatro? Essa foi uma pergunta enunciada por Grace Passô durante uma live do projeto Perspectivas 20, organizada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP). Na ocasião, influenciada pela derrubada de estátuas realizadas por manifestantes de diferentes países do Ocidente, que foram às ruas contra a violência racial, policial e em protesto ao assassinato de George Floyd, a reflexão se rearticulou dentro do campo e da linguagem teatral, a partir de uma primeira associação feita por Passô, apontando que ações como essa levam a público o debate sobre as disputas de narrativa.