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Circuitos virtuais pretos
Quais são os monumentos que devemos derrubar no teatro? Essa foi uma pergunta enunciada por Grace Passô durante uma live do projeto Perspectivas 20, organizada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP). Na ocasião, influenciada pela derrubada de estátuas realizadas por manifestantes de diferentes países do Ocidente, que foram às ruas contra a violência racial, policial e em protesto ao assassinato de George Floyd, a reflexão se rearticulou dentro do campo e da linguagem teatral, a partir de uma primeira associação feita por Passô, apontando que ações como essa levam a público o debate sobre as disputas de narrativa.
A cena negra refletida no abebé de Oxum
Em 1944, no Brasil, Abdias do Nascimento, poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, fundou, no Rio de Janeiro, o icônico Teatro Experimental do Negro. Entre as inúmeras motivações ideológicas que o levaram a idealizar o TEN, estava o desejo de criar um teatro onde o negro não fosse apenas tema, mas que pudesse ser protagonista de sua própria história.
Uma vez que, ao longo de mais de 70 anos, as estruturas racistas ainda insistem em nos invisibilizar, O teatro negro em perspectiva: dramaturgia e cena negra no Brasil e em Cuba, de Marcos Antônio Alexandre, se faz necessário e urgente, na medida em que apresenta outras paisagens e contribui para a reconfiguração simbólica e material da cartografia das artes no Brasil, em conexão com Cuba.
Seguindo os percursos de Édouard Glissant e sua poética da relação, Marcos Alexandre nos oferece novas perspectivas a partir das quais podemos reavaliar e reinterpretar os territórios e fronteiras artísticas, especialmente naquilo que diz respeito aos processos históricos ligados às construções identitárias, mnemônicas e culturais no Brasil e em Cuba.