Tag: miguel vellinho
O gesto poético como libertação. E reaprendizado.
Início
Ter uma companhia de teatro, com já alguma estrada, implica aprofundar sua pesquisa interna de forma cada vez mais surpreendente – de preferência – e não decepcionar o seu público fiel. Sempre tenho em mente a figura daquele artista de circo que mantém vários pratos girando sem parar sobre uma varinha. E a quantidade de pratos só aumenta… Assim, ao idealizar o projeto que gerou o espetáculo PEH QUO DEUX, tive que levar em consideração alguns anseios internos e externos que, nos últimos anos, vêm nos perseguindo. Eu queria muito retomar a vertente mais forte e característica da PeQuod, o seu trabalho com bonecos, fundamental para que o grupo se destacasse no panorama local e nacional. No entanto, o hibridismo, que nos permitiu mesclar atores e bonecos num mesmo grau de importância na cena e que, desde Peer Gynt, encenado em 2006, tem pautado nossos trabalhos, para mim já tinha se esgotado. Por ora. Essa contaminação da cena foi bastante relevante nesta montagem já citada e em A Chegada de Lampião no Inferno, espetáculo de 2009 que também bebeu nessa fonte híbrida. A questão é que tínhamos saído de um trabalho em que as necessidades de produção e da cena foram retirando os bonecos do palco e nos vimos em um híbrido ao extremo, um híbrido ao contrário ou, resumidamente, um espetáculo sem bonecos. Só com atores. Nada contra. But…
A burguesia é branca
Está em cartaz, até o dia 27 de julho, no Espaço SESC em Copacabana, o espetáculo As regras da arte de bem viver na sociedade moderna, escrito pelo francês Jean-Luc Lagarce, com atuação de Lorena da Silva e encenação de Miguel Vellinho. Apresentado no Espaço Bar, área cênica reservada para experimentações de caráter mais intimista (o espetáculo comporta somente trinta e dois espectadores), a linguagem da encenação produz reflexão que, por meio da ironia, retrata o jogo de interesse que esclarece a essência da filosofia de vida na sociedade capitalista-burguesa, onde as relações de privilégios e regalias entre as elites estruturam-se solidamente em laços perpétuos de comunhão “fraternal” ou “amorosa” nos sacramentos da Igreja Católica.