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O gesto poético como libertação. E reaprendizado.
Início
Ter uma companhia de teatro, com já alguma estrada, implica aprofundar sua pesquisa interna de forma cada vez mais surpreendente – de preferência – e não decepcionar o seu público fiel. Sempre tenho em mente a figura daquele artista de circo que mantém vários pratos girando sem parar sobre uma varinha. E a quantidade de pratos só aumenta… Assim, ao idealizar o projeto que gerou o espetáculo PEH QUO DEUX, tive que levar em consideração alguns anseios internos e externos que, nos últimos anos, vêm nos perseguindo. Eu queria muito retomar a vertente mais forte e característica da PeQuod, o seu trabalho com bonecos, fundamental para que o grupo se destacasse no panorama local e nacional. No entanto, o hibridismo, que nos permitiu mesclar atores e bonecos num mesmo grau de importância na cena e que, desde Peer Gynt, encenado em 2006, tem pautado nossos trabalhos, para mim já tinha se esgotado. Por ora. Essa contaminação da cena foi bastante relevante nesta montagem já citada e em A Chegada de Lampião no Inferno, espetáculo de 2009 que também bebeu nessa fonte híbrida. A questão é que tínhamos saído de um trabalho em que as necessidades de produção e da cena foram retirando os bonecos do palco e nos vimos em um híbrido ao extremo, um híbrido ao contrário ou, resumidamente, um espetáculo sem bonecos. Só com atores. Nada contra. But…
A incomunicabilidade entre pai e filho
O Homem que amava caixas (The Man Who Loved Boxes), texto do autor australiano Stephen Michael King – em cartaz no Teatro OI FUTURO Ipanema-, é a concretização de um desejo artístico do bonequeiro e ator Márcio Nascimento (integrante da criativa Cia Pequod, que encontrou na inquieta Cia. de Teatro Artesanal a parceria ideal para a realização deste sonho delicado e singular). A Artesanal, que já vinha pesquisando e dialogando nestes últimos três anos sobre as diversas formas de expressão do fazer teatral para a infância e juventude, sendo a mais recorrente o uso de bonecos em cena, na técnica de manipulação direta (dois exemplos disso são as encenações de A lenda do príncipe que tinha rosto, 2009, e O teatro da grande marionete, 2010), procura aliar o universo mágico dos títeres com a tradição mais original do teatro feito por atores de carne e osso. Integrando esses dois mundos em diversos formatos da técnica de manipulação direta entre bonecos e atores, atores e máscaras, atores que assumem o estado de boneco, eles não deixam também de dialogar com o cinema, uma das maiores características da Cia, que tem um admirador e estudioso da sétima arte à frente da direção dos espetáculos.