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Um teatro de afetos

24 de dezembro de 2015 Críticas

Vol. VIII n° 66 dezembro de 2015 :: Baixar edição completa em pdf

Resumo: Breve análise de quatro espetáculos que fizeram parte da programação do Exploraciones Escénicas, evento que reuniu críticos de diferentes países para interagir com o teatro de Buenos Aires no 10º FIBA – Festival Internacional de Buenos Aires 2015. As peças analisadas são: Cinthia Interminable, Terrenal – pequeño misterio ácrata, Cactus Orquídea e La máquina idiota. A proposta é abordar o teatro portenho como um teatro de afetos.

Palavras-chave: Teatro de afetos, teatro portenho, dramaturgia contemporânea, dramaturgia argentina

Resumen: Breve análisis de cuatro espectáculos que formaban parte de Exploraciones Escénicas, un evento que reunió críticos de diferentes países para interactuar con el teatro de Buenos Aires en 10º FIBA – Festival Internacional de Buenos Aires 2015. El artículo habla de los siguientes espectáculos: Cinthia Interminable, Terrenal – pequeño misterio ácrata, Cactus Orquídea y La máquina idiota. La propuesta es pensar el teatro porteño como un teatro de afectos.

Palabras-clave: teatro de afectos, teatro porteño, dramaturgia contemporánea, dramaturgia argentina

 

É um prazer poder ver o teatro de Buenos Aires em Buenos Aires. Tive a oportunidade de assistir no Rio de Janeiro e em São Paulo a algumas peças nos últimos anos, mas assistir a elas na cidade em que foram criadas é uma experiência completamente diferente. Como vemos todas as coisas em relação a outras que já conhecemos, minha recepção das peças do FIBA (no recorte das nossas atividades no Exploraciones Escénicas) estão emolduradas pela minha experiência anterior com o teatro portenho, que vou expor brevemente.

Como um punhal nas carnes

22 de dezembro de 2014 Traduções

Vol. VII, nº 63, dezembro de 2014

“Como relato, o amor é uma história que se cumpre, no sentido sagrado: é um programa que deve ser recorrido. O apaixonamento é um drama, se devolvemos a essa palavra o sentido arcaico que lhe deu Nietzsche: ‘O drama antigo tinha grandes cenas declamatórias, o que excluía a ação (esta se produzia antes ou fora de cena). O rapto amoroso (puro momento hipnótico) se produz antes do discurso y atrás do proscênio da consciência: o “acontecimento” amoroso é de ordem hierático: é minha própria lenda local, minha pequena história sagrada que declamo a mim mesmo, e essa declamação de um feito consumado (coagulado, embalsamado) é o discurso amoroso. A jornada amorosa parece então seguir três etapas (ou três atos): está em primeiro lugar, instantânea, a captura (sou raptado por uma imagem); vem então uma série de encontros (visitas, conversas telefônicas, cartas, pequenas viagens) no curso dos quais ‘exploro’ com embriaguez a perfeição do ser amado, ou seja, a adequação inesperada de um objeto ao meu desejo: é a doçura do começo, o tempo próprio do idílio. Esse tempo feliz toma sua identidade de que se opõe (ao menos na lembrança) à ‘sequela’: a sequela é um grande rastro de sofrimentos, feridas, angústias, desamparos, ressentimentos, desesperos, penúrias e armadilhas de que sou presa”.

Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso.

“Estás clavada en mí como un puñal en las carnes”

Jorge Caldara e Mario Soto, Pasional. Tango.

A sorte da feia

22 de dezembro de 2014 Traduções

Vol. VII, nº 63, dezembro de 2014

Palco alto de onde uma vitroleira pode observar as mesas de um “café de camareiras”.

Uma vitrola com enorme alto falante e vários discos de goma-laca (78 rpm). Ela se olha como em um espelho no azeviche de um.

VIOLA: Vertigem. Dá vertigem. O olhar. Não o seu, Ferrandís, não seja idiota. Se seu olhar tivesse mexido um fio do meu cabelo, teria imediatamente duvidado quando abria esses olhos arregalados pedindo piedade. Não, o seu olhar não me dá nada. O das pessoas. Vertigem. Um palco é um lugar para isso. Para ser perturbado por eles. Envolvido. Uma vitrine. Um petit tablado. Não sou carne de vitrine, eu. Já vai saber. Não estou feita para ser olhada. Sempre soube. “A sorte da feia”, consolava minha mãe. Não: eu sou de se escutar. Sou de se ouvir. Tudo meu é som. Tudo. O tom de voz: perceba: fecha os olhos, escuta minha voz e me diga. Não é a voz de uma bela? Voz de manequim. Passei a infância ouvindo as meninas bonitas para capturar suas vozes. Para roubá-las. Para copiar o tom e a modulação buscando esse ruído, a beleza que qualquer ouvido privilegiado pode reconhecer. Registrando essa entonação, essa cadência, como uma foto, com esse ouvido absoluto com que Deus me castigou. O tímpano é um órgão mais insondável do que alguém como o senhor pode entender. Não me responde. Não se faça de imbecil. Sei que ainda está vivo e que se cala para me humilhar uma última vez, Ferrandís.

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A Questão de Crítica – Revista eletrônica de críticas e estudos teatrais – foi lançada no Rio de Janeiro em março de 2008 como um espaço de reflexão sobre as artes cênicas que tem por objetivo colocar em prática o exercício da crítica. Atualmente com quatro edições por ano, a Questão de Crítica se apresenta como um mecanismo de fomento à discussão teórica sobre teatro e como um lugar de intercâmbio entre artistas e espectadores, proporcionando uma convivência de ideias num espaço de livre acesso.

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