Tag: márcio nascimento
Acúmulo de solidão em cena
Em Adágio, a solidão desponta como tema no texto de Gustavo Bicalho e Mauro Siqueira e como proposta de atuação, lançada a Suzana Castelo e, em especial, a Márcio Nascimento. Ao estabelecer “contracena” com um boneco em escala humana, o ator é levado a acumular uma dupla função: encarrega-se das motivações de seu personagem e manipula o outro da cena – no caso, o boneco –, responsabilizando-se por suas reações. É uma circunstância distinta da habitual, em que os atores são estimulados pelo contato com os parceiros de cena. Em mais um momento da montagem assinada por Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves, os atores contracenam por via indireta. A atriz interage com o boneco – por sua vez, manipulado pelo ator, cujo personagem não está em cena nesse instante. Diferentemente da primeira passagem mencionada, nessa os dois intérpretes se encontram envolvidos na construção da situação, mas o fato de não firmarem uma relação direta também remete a um solitário estar em cena.
A incomunicabilidade entre pai e filho
O Homem que amava caixas (The Man Who Loved Boxes), texto do autor australiano Stephen Michael King – em cartaz no Teatro OI FUTURO Ipanema-, é a concretização de um desejo artístico do bonequeiro e ator Márcio Nascimento (integrante da criativa Cia Pequod, que encontrou na inquieta Cia. de Teatro Artesanal a parceria ideal para a realização deste sonho delicado e singular). A Artesanal, que já vinha pesquisando e dialogando nestes últimos três anos sobre as diversas formas de expressão do fazer teatral para a infância e juventude, sendo a mais recorrente o uso de bonecos em cena, na técnica de manipulação direta (dois exemplos disso são as encenações de A lenda do príncipe que tinha rosto, 2009, e O teatro da grande marionete, 2010), procura aliar o universo mágico dos títeres com a tradição mais original do teatro feito por atores de carne e osso. Integrando esses dois mundos em diversos formatos da técnica de manipulação direta entre bonecos e atores, atores e máscaras, atores que assumem o estado de boneco, eles não deixam também de dialogar com o cinema, uma das maiores características da Cia, que tem um admirador e estudioso da sétima arte à frente da direção dos espetáculos.