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Traços de um mapeamento afetivo
Susuné, recente pesquisa cênica da atriz Carolina Virgüez, sob a direção de Antônio Karnewale, é uma potência, é uma necessidade de transformar o espaço de atuação numa área de livre trânsito, onde os vetores da memória são lançados nas mais variadas direções, onde se concentram fluxos alternados de temporalidade, resgate e recriação do passado, densidades, sonoridades e ritmos de voz, de som e de fala estrangeiros. Trata-se de um solo em que se denota uma inquietação bastante peculiar da atriz na concepção e realização de um projeto autoral, no sentido de trazer, para o plano estético, elementos que entrelaçam à ficção muito de sua vida particular, onde a personagem se confunde com a sua intérprete, ou melhor dizendo, onde a intérprete se coloca na situação de personagem de sua própria existência, tanto na Colômbia, país de origem de Virgüez, como no Brasil.
Entre o ruído e o esvaziamento
A experiência de arte da linguagem teatral parece estar sempre de um certo modo atravessando as noções de ficção e de realidade. O teatro tem um estatuto duplo – a presença e o remetimento para outra cena. Isso constitui um modo de estar no tempo sempre complexo e paradoxal. O teatro contemporâneo investiga esse paradoxo e, por vezes, pode abrir uma clareira na qual o espectador, por meio da construção artificial que se dá, tenha a experiência de um mais puro real, ou seja, de um aqui e agora recheado de temporalidades distintas. Do modo como eu percebo, o espetáculo Um homem e três janelas, realizado pela Companhia de Teatro das Inutilezas, dá a ver uma cena que promove um trânsito por essas noções.