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“As histórias de hoje não têm clima. É só sacanagem.”

Os Catecismos segundo Carlos Zéfiro, em cartaz desde o dia 10 de março, no Teatro 2 do Centro Cultural do Banco do Brasil no centro do Rio de Janeiro, e que cumpre temporada até o próximo dia 10 de abril, é uma produção conjunta entre a ClaMa! Cia de Teatro e a companhia paranaense Vigor Mortis. Com direção e texto a cargo do curitibano Paulo Biscaia Filho, o espetáculo presta reverências e justa homenagem àquele que foi o responsável pela alegria dos onanistas de plantão e por boa parte da iniciação sexual dos jovens rapazes dos anos 50, 60 e 70, o cartunista Carlos Zéfiro. Ele se notabilizou por publicar e ilustrar mais de uma centena de revistinhas com conteúdo pornô-erótico que ficaram conhecidos em todo o país como “catecismos” – pois reza a lenda que estas eram vendidas dissimuladamente em bancas de jornais e entregues aos seus compradores escondidas dentro de publicações religiosas.
Equação entre intenção e resultado formal

O espetáculo As três velhas remete ao meu viés crítico pelo lado mais inusitado: ao momento em que decidi escrever sobre teatro. Essa origem parafraseia Roland Barthes quando se deparou com o Berliner Ensemble em Paris. O choque estabelecido em Barthes pela encenação de Brecht, em confronto com o teatro burguês praticado na França, causou uma sensação que impulsionou sua perspectiva. Seus escritos sobre teatro aprofundaram o viés da materialidade. Minha visada, aliada à do crítico, se ajusta pela busca das singularidades da linguagem teatral que perfazem um movimento de resistência dessa esfera. O produto resultante do encontro entre a dramaturgia de Alejandro Jodorowski e a direção/desejo de Maria Alice Vergueiro ilumina as intenções em obra do primeiro e estabelece seus devires. O Teatro Pândega de Vergueiro provoca apreensões que não almejam o esclarecimento, mas materializam as tensões existentes na visão de Jodorowski, uma personalidade de difícil classificação. A combinação entre a bufonaria do Pândega e o paroxismo do surrealismo – característica da obra de Jodorowski – dá a ver o trágico em sua performance de crítica. Essa sensação, que nunca tive com os filmes do diretor, só foi possível por meio de um evento que acontece ao vivo, em que o espectador é agente da mesma ação que se desenvolve no palco. A especificidade do teatro se faz visível na reação da plateia em uma performance crítica que transita entre a apreensão dramática e um riso que desabriga novos modos de percepção.